Na AmazĂ´nia, a regiĂŁo Norte possui elevados Ăndices pluviomĂ©tricos e ao mesmo tempo os piores Ăndices de acesso a água potável. De acordo com o Ăşltimo levantamento feito pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgado em 2021, a regiĂŁo concentra o menor Ăndice da população total atendida com redes pĂşblicas de abastecimento de água: 58,9%. E somente 13,1% dos nortistas possuem acesso Ă rede pĂşblica de esgoto. Pensar formas eficientes e de baixo custo, desenvolvidas para solucionar problemas da regiĂŁo AmazĂ´nica, como a falta de água potável e o acesso a saneamento, sĂŁo foco do I Encontro de Tecnologia Social da AmazĂ´nia (ETSAmazĂ´nia), que será realizado de 21 a 25 de novembro, em BelĂ©m. O evento Ă© coordenado pela professora Vania Neu, da Universidade Federal Rural da AmazĂ´nia (UFRA) e vai reunir diversas instituições e colaboradores, que juntos discutirĂŁo experiĂŞncias e soluções inovadoras diante de desafios AmazĂ´nicos. O encontro será realizado no auditĂłrio Paulo Cavalcante, no campus de pesquisa do Museu Paraense EmĂlio Goeldi. As inscrições sĂŁo gratuitas e podem ser realizadas pelo link: https://www.even3.com.br/1-encontro-de-tecnologia-social-da-amazonia-etsamazonia-377888/ . As submissões de trabalhos podem ser feitas atĂ© 03 de novembro.
Mas o que sĂŁo tecnologias sociais? Segundo a professora Vania Neu, sĂŁo tecnologias desenvolvidas na interação com as pessoas, que se apropriam dessas alternativas para a solução de problemas enfrentados por elas. “As tecnologias sociais sĂŁo frutos do diálogo entre o saber tradicional e o conhecimento cientĂfico. A tecnologia social na AmazĂ´nia pode trazer soluções efetivas, sustentáveis e culturalmente apropriadas para questões ambientais, de saĂşde coletiva, desenvolvimento comunitário e inclusĂŁo social. Pensar em tecnologias sociais para a AmazĂ´nia Ă© de extrema importância devido Ă singularidade e complexidade da regiĂŁo. A AmazĂ´nia enfrenta desafios ambientais, sociais e econĂ´micos Ăşnicos, como a falta de infraestrutura básica, desmatamento, mudanças climáticas e isolamento geográfico. O uso de tecnologias sociais adaptadas Ă realidade local contribui para soluções sustentáveis e contextualizadas, que promovam o desenvolvimento sem comprometer a ecologia, a cultura e a qualidade de vida das comunidades amazĂ´nicas”, explica a coordenadora.
Soluções
Dentre as soluções apresentadas pela Ufra diante desse problema, estão as tecnologias sociais aplicadas ao saneamento e à gestão ambiental. A ênfase está na gestão participativa e coletiva para resolver problemas de saneamento e meio ambiente.
Um dos projetos Ă© a captação de água da chuva, a partir de um sistema que funciona sem a necessidade do uso de bombas d’água e de energia elĂ©trica. Com isso, a água chega nas residĂŞncias por meio da gravidade e, apĂłs o descarte dos primeiros milĂmetros de chuva, os moradores tem acesso à água potável. O sistema já faz parte do dia a dia de 15 famĂlias da comunidade do Furo Grande, na Ilha das Onças, MunicĂpio de Barcarena.
Outra tecnologia apresentada pela universidade é o Banheiro Ecológico Ribeirinho (BER), criado especialmente para áreas sujeitas a inundações, seja por influência da maré ou pela variação sazonal do rio. “O banheiro consiste na instalação de um reservatório simples, onde os dejetos são depositados. Após cada uso do banheiro, é necessário adicionar serragem e cal virgem. Dessa forma, os dejetos, que antes chegavam ao rio, por meio desta tecnologia, ficam armazenados no reservatório e transformam-se em um composto orgânico, podendo ser usado como adubo”, explica a professora.
No evento, os pesquisadores da Ufra tambĂ©m vĂŁo apresentar os Tanques de Evapotranspiração (TEvap), um tratamento de esgoto baseado em soluções da natureza. Por meio de plantas com alta capacidade de evapotranspiração, como as bananeiras, taiobas e helicĂ´nias, o esgoto Ă© transformado em água limpa e liberada para a atmosfera. “É uma excelente alternativa para solos com baixa capacidade de infiltração e com lençol freático raso”, diz a pesquisadora. Essa tecnologia social já Ă© utilizada em outros locais do paĂs e foi recentemente implantada pela universidade em parceria com estabelecimentos na ilha do Combu.
Outras instituições tambĂ©m integram o evento, como a Universidade Federal do Pará (UFPA); Museu Paraense EmĂlio Goeldi (MPEG); Instituto Federal do Pará (IFPA) ; e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Instituto Peabiru; ObservatĂłrio Nacional de Direitos água e saneamento (ONDAS) ; Universidade Federal do Paraná (UFPA) ; UNAMA; Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) ; MinistĂ©rio de CiĂŞncia e Tecnologia (MCTI); Instituto Nacional de Pesquisas da AmazĂ´nia (INPA) e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
“O evento visa promover o intercâmbio de conhecimento, experiĂŞncias e melhores práticas entre diferentes instituições e comunidades. A troca de experiĂŞncias entre comunidade e academia vem a ser uma forma efetiva no desenvolvimento de projetos de alto impacto na vida das comunidades que vivem na regiĂŁo”, diz Vania Neu.
As instituições também participarão coordenando e contribuindo nos 05 diferentes grupos de trabalho que serão formados no evento:
Confira os GTs:
GT 01: Este grupo aborda a tecnologia social em empreendimentos produtivos com enfoque em economia solidária e gestão social. O objetivo é discutir como tecnologias sociais podem ser incorporadas a empreendimentos coletivos, promovendo a inclusão produtiva, a transformação econômica e social, e a construção de relações democráticas.
GT 02: Concentra-se em tecnologias sociais aplicadas ao saneamento e gestão ambiental, visando abordar soluções transformadoras para questões sociais, ambientais e de saúde. A ênfase está na gestão participativa e coletiva para resolver problemas de saneamento e meio ambiente.
GT 03: Explora a relação entre tecnologia social e polĂticas pĂşblicas, englobando desde o fomento Ă tecnologia social por parte das esferas governamentais atĂ© a integração da tecnologia social em polĂticas pĂşblicas de diversos setores, considerando sua formulação, implementação e avaliação.
GT 04: Aborda tecnologias sociais para segurança alimentar e nutricional, com enfoque na agricultura familiar e na produção agroecológica. Discute como a tecnologia social pode romper barreiras tecnológicas e promover a segurança alimentar na Amazônia.
GT 05: Destina-se a disseminar experiências de tecnologia social realizadas na região amazônica que contribuam para o desenvolvimento sustentável, abrangendo temas sociais, econômicos e ambientais. Busca-se apresentar casos de sucesso e explorar seu potencial de reaplicação e adaptação.
Serviço:
Inscrições abertas para o I Encontro de Tecnologia Social da AmazĂ´nia (ETSAmazĂ´nia). De 21 a 25 de novembro, em BelĂ©m. AtĂ© 09/10 Ă© possĂvel inscrever trabalhos na modalidade “artigo” ou “relato tĂ©cnico de experiĂŞncia (resumo)”, em um dos 05 grupos de trabalho do evento. As inscrições sĂŁo gratuitas e podem ser realizadas pelo link: https://www.even3.com.br/1-encontro-de-tecnologia-social-da-amazonia-etsamazonia-377888/
Com informações de Vanessa Monteiro / Ascom Ufra