Ararajuba é uma ave psitaciforme endêmica do norte do Brasil, ameaçada de extinção. As aves chegam a medir até 35 centímetros de comprimento, possuindo uma plumagem amarelo-ouro com rêmiges verdes.
No Pará, cinco filhotes de ararajubas nasceram no Parque Estadual do Utinga “Camillo Vianna”, em Belém, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) e da Fundação Lymington, para a preservação da biodiversidade amazônica.
O nascimento dessas aves marca um importante avanço no Projeto de Reintrodução e Monitoramento de Ararajubas na Região Metropolitana de Belém. Os filhotes, que já estão com cerca de dois meses, começam a observar o comportamento dos adultos e se prepararem para conquistar os céus.
O Ideflor-Bio informa que, até pouco tempo, as ararajubas eram consideradas extintas nos arredores da capital paraense. Com muita pesquisa, trabalho de campo e dedicação, essa situação está sendo revertida. A iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Florestal já devolveu 58 ararajubas à natureza e isso é reflexo do compromisso do Estado com a proteção da biodiversidade e a preservação das espécies ameaçadas de extinção.
Ararajubas são aves genuinamente paraense, destaca Ideflor-Bio
O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou a importância desse momento histórico. “O nascimento dessas ararajubas genuinamente paraenses é um testemunho do sucesso do projeto e da resiliência da natureza. Sem dúvidas, esse nascimento representa um grande passo para a conservação da espécie. É um sinal de que nossos esforços têm surtido efeito e que as ararajubas estão se adaptando ao seu habitat natural”, frisou.
Os filhotes que nasceram no Parque Estadual do Utinga têm uma vantagem em relação às demais aves reintroduzidas, que são trazidas do aviário da Fundação Lymington, em Juquitiba, interior de São Paulo: eles não precisarão passar por um período de adaptação ao clima e à alimentação, pois já estão inseridos em seu ambiente natural.
Marcelo Vilarta, um dos biólogos que atua no projeto, explica que essa nova geração de ararajubas é genuinamente paraense e representa a continuidade da espécie na região. “Elas são a primeira geração nascida do grupo que soltamos na segunda etapa. A última reprodução foi em 2018, mas sem sucesso e, desde então, não tivemos mais nenhum nascimento”, relata o especialista.
Além disso, o comportamento colaborativo das ararajubas tem sido um diferencial importante para o sucesso da reprodução. Não apenas os pais cuidam dos filhotes, mas outros membros do grupo se envolvem na proteção, alimentação e vigilância. Essa característica é marcante da espécie e tem sido observada pelos pesquisadores do projeto. “As ararajubas têm um sistema de colaboração muito interessante. Mesmo não sendo os pais biológicos, outros indivíduos do grupo ajudam a proteger e alimentar os filhotes, contribuindo para que eles sobrevivam e alcancem a fase adulta”, ressalta Vilarta.
Adaptação inclui convivência com outras aves
O nascimento das ararajubas foi possível graças ao estabelecimento do grupo de aves reintroduzidas no Parque Estadual do Utinga. Elas passaram a confiar no ambiente e na convivência com os demais membros do grupo, o que facilitou a escolha do local para a reprodução. Leva um tempo até que as ararajubas se sintam confortáveis e selecionem o espaço adequado para fazerem seus ninhos. São aves territorialistas e protetoras, que só escolhem uma área quando sentem que há segurança e comida suficiente.
Outro ponto importante da ação é o monitoramento contínuo das ararajubas após a sua liberação. Marcelo ressalta que, mesmo ao deixarem o ninho, as ararajubas são guiadas pelos pais e pelo grupo. No entanto, caso se percam ou precisem de cuidados, a equipe do projeto estará pronta para realizar o resgate. “O ideal é que essa adaptação aconteça de forma natural, sendo conduzida pelos próprios membros da família”, detalhou.
Continuidade – A iniciativa se prepara para novas etapas de expansão. Em abril de 2024, o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington firmaram um Termo de Colaboração para dar continuidade à terceira etapa do projeto. Essa fase prevê a ampliação do aviário para treinamento das aves, a construção de espaços dedicados à educação ambiental e a implementação de um equipamento digital para interação do público no Parque Estadual do Utinga.
De acordo com o presidente da Fundação Lymington, Luís Fábio Silveira, a reintrodução dessas ararajubas representa não apenas um esforço de conservação, mas também um símbolo de esperança. “A continuidade do projeto no Parque Estadual do Utinga e em outras áreas da Região Metropolitana de Belém é um passo significativo para a preservação da biodiversidade no Pará, um exemplo de como a união entre pesquisa, educação ambiental e gestão pública pode gerar resultados positivos”, enfatizou.
O objetivo é devolver mais 50 ararajubas aos céus de Belém até a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá na capital paraense. “Estamos ampliando a infraestrutura para recebermos um maior número de aves. A expectativa é que essas ararajubas passem por todo o processo de treinamento e se sintam preparadas para a vida em seu habitat natural”, destacou a gerente de Biodiversidade do Ideflor-Bio, Mônica Furtado.