Abelhas: essenciais para a produção de alimentos, para os ecossistemas…

- Publicidade -

Even Oliveira/Diário do Pará – Essenciais para a manutenção dos ecossistemas, as abelhas desempenham um papel muito além da produção de mel. Como polinizadoras naturais, elas dão continuidade na cadeia de culturas agrícolas, desempenham um papel forte na reprodução de mais de 80% das plantas com flores, e na preservação do meio ambiente, sendo fundamentais para a assistência da biodiversidade.

Segundo Daniel Santiago, 45, pesquisador de Apicultura Sustentável na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) da Amazônia Oriental, existem aproximadamente 22 mil espécies de abelhas no mundo, sendo que as abelhas solitárias compõem a maioria dessas espécies. Abelhas solitárias são aquelas que não vivem em sociedade. Desse conjunto, em torno de 5% são abelhas sociais.

“Essas abelhas sociais se dividem em dois grupos que zootecnicamente são mais conhecidas como abelhas com ferrão e abelhas sem ferrão”, explica. Tendo uma espécie globalmente, mas com várias raças, a abelha com ferrão, voltada para a apicultura, como a apis mellifera, conhecida como abelha europeia, é mais utilizada pelo homem para a produção de mel, cera e polinização. Já as abelhas sem ferrão, voltadas para a meliponicultura, são as que produzem mel e outros produtos com valor terapêutico e ambiental.

No Brasil, há aproximadamente 250 espécies sem ferrão, das quais 200 habitam o bioma amazônico. “Já o Estado do Pará abriga 120 dessas espécies, consolidando-se como o Estado com maior diversidade de abelhas sem ferrão no país”, ressalta. Essa riqueza está diretamente ligada às condições ambientais da região, como o regime de chuvas, os diferentes tipos de vegetação e o solo.

De acordo com Daniel, ao adentrar o Estado paraense, cada ecorregião tem espécies mais adaptadas a seus atributos específicos. Na região do Salgado e em Belém, destacam-se a uruçu-amarela, a uruçu-cinzenta e a canudo-preta. “A canudo-preta, por exemplo, é utilizada principalmente na polinização do açaizeiro, enquanto a uruçu-amarela e a uruçu-cinzenta se destacam na produção de mel”, acrescenta.

Nas regiões Sudeste e Sul do Estado, é comum a presença da uruçu-bunda-preta, uma espécie endêmica dessas áreas. Na região Oeste, as espécies predominantes são a jupará, que também é comum no Amazonas, e a canudo-amarela.

“Embora sejam muito adaptadas ao clima tropical, as abelhas sem ferrão têm um método de navegação diferenciado. Dentro das florestas densas, elas utilizam rastros e toques nas folhas para se orientar, enquanto as abelhas com ferrão dependem do sol para fazer a comunicação com o enxame. Essa diferença reflete como cada espécie interage com o ambiente e se adapta às condições locais”, detalha.

De acordo com o pesquisador, a principal função da abelha é a da polinização, que é um processo de transferência de pólen de uma flor para outra, permitindo a reprodução das plantas e a formação de frutos e sementes. Este é um serviço natural que sustenta a biodiversidade em diferentes biomas, como floresta amazônica, cerrado e caatinga. Apesar de sua importância, esse papel é frequentemente ignorado.

“A polinização é o principal produto que, na verdade, é um serviço, e é o que as pessoas menos veem porque, quando se fala em abelha, é lembrado do risco do ferrão, e [produção] de mel”, observa.

E elas também são importantes bioindicadores ambientais. Alterações no comportamento ou no número de colônias podem indicar problemas no ecossistema, como poluição, desmatamento ou mudanças climáticas. Daniel explica que diferentes plantas florescem ao longo do ano, garantindo alimento contínuo para as abelhas. Por exemplo, enquanto algumas flores aparecem em janeiro e fevereiro, outras surgem em março e abril, criando um ciclo natural que sustenta tanto as abelhas quanto as plantas e, por extensão, os frutos e os animais que delas dependem.

“A preservação das abelhas não é apenas uma questão ambiental, mas também de sobrevivência humana. Dependemos delas para a produção de alimentos, para manter os ecossistemas equilibrados”, pontua.

As abelhas também são fundamentais para a economia e a cultura da região. A polinização de plantas como o açaizeiro, realizada por espécies nativas como a canudo-preta, tem impacto direto na produção de frutos, enquanto o mel produzido pelas abelhas sem ferrão é valorizado tanto pela qualidade quanto pelo potencial terapêutico.

“Em 2022 e 2023, respectivamente, o Brasil produziu em torno de 60 mil toneladas de mel, e isso falando da apis mellifera, porque na produção de mel ela desponta; e o Estado do Pará respondeu por aproximadamente 1,5% dessa produção, tendo cerca de 3 mil famílias [de produtores] envolvidas”, lembra Santiago. Cada tipo de abelha desempenha um papel importante na polinização e na produção de mel, sendo essenciais para a economia local. “Isso não quer dizer que produza apenas isso [quantidade de toneladas], porque este é o mel oficial, que passa por uma casa de mel, um entreposto fiscalizado”.

- Publicidade -
spot_imgspot_img

Conteúdo Relacionado

DOL
DOLhttps://dol.com.br/?d=1
Site especializado do portal DOL com notícias, reportagens especiais e informações sobre a COP 30, maior evento climático do mundo, que será realizado em Belém, em 2025, além de temas relacionados, como Amazônia, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.