Even Oliveira – Compreender a Amazônia vai muito além de contemplar sua vastidão e biodiversidade. Pesquisar a região, considerada um dos biomas mais ricos e essenciais do planeta, é uma tarefa que exige décadas de dedicação. É nesse cenário que, desde 6 de outubro de 1866, ao longo de 159 anos de existência, atua o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), instituição científica pioneira na investigação da flora, fauna e populações amazônicas.
A instituição, que abriga um vasto acervo de descobertas e contribuições para a compreensão da biodiversidade e das populações tradicionais da região, não apenas resiste aos desafios históricos, mas se mantém ativa na produção de conhecimento e inovação. O trabalho realizado pelos pesquisadores do Museu tem sido crucial para a identificação de novas espécies e para o desenvolvimento de estudos que impactam diretamente a preservação ambiental e a formulação de políticas públicas.
Como principal missão, está “pesquisar, catalogar e analisar a diversidade biológica e sociocultural da Amazônia, contribuindo para sua memória cultural e desenvolvimento regional”, sobre a Floresta, aglutinando dados das ciências humanas, biológicas, sociais e da terra. O diretor do MPEG, Nilson Gabas Júnior, destaca que além disso, está, também, a difusão do conhecimento científico e a preservação.
A relevância da atuação do MPEG não se limita à catalogação de espécies e também desempenha um papel essencial na defesa dos povos tradicionais da Amazônia. Como a criação de diversas terras indígenas, no reconhecimento de povos e na defesa de seus direitos. “Para você criar uma terra indígena, é necessário ter todo um laudo antropológico. E os antropologos do Museu descobriram terras indígenas do Amazonas, onde estão as terras do Alto Rio Negro; no Acre, Rondônia e no Amapá”, lembra.
Além disso, os pesquisadores vinculados ao Museu Goeldi, bolsistas do PCI, por exemplo, realizam pesquisa de campo e voltam na bagagem com a descoberta de novas espécies. “Apenas no século 21, pesquisadores vinculados ao Museu escreveram mais de 800 espécies da flora, fauna e fungos; foram quase 900 espécies. Todas as vezes são descobertas espécies novas de mamíferos. Então, isso, para efeito de produção de conhecimento na Amazônia, é fantástico”, enfatiza.
No aprimoramento de suas coleções científicas, “as pesquisas alimentam e são municiadas por 19 coleções científicas principais, integradas por mais de 4,5 milhões de itens tombados, entre os quais se destacam ícones da cultura nacional”.
HISTÓRIA
Entre as primeiras descobertas, Gabas recorda o trabalho do naturalista Domingos Soares Ferreira Penna, primeiro diretor do museu e um dos responsáveis por sua fundação. Ele foi pioneiro no estudo da cerâmica cunani e marajoara, e o primeiro a pesquisar a região de Caxiuanã. “Não tem como falar de ceramica marajoara e não falar de Ferreira Penna. Além disso, parte do seu material, que são as cerâmicas mais antigas, metálicas e tudo mais, foi perdido no recente no incêndio do Museu Nacional [no Rio de Janeiro, em 2018]”, ressalta.
Mais recentemente, uma das iniciativas do Museu Goeldi é a atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da Flora do Pará, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio). Conforme Gabas, o Estado do Pará foi o segundo do Brasil a criar uma lista própria de espécies ameaçadas, há mais de uma década. “Agora, os pesquisadores trabalham na revisão desses dados, trazendo informações atualizadas sobre as espécies em risco. A fauna é mais diversa e complexa, mas o avanço no estudo da flora já aponta para um aumento significativo no número de espécies sob ameaça”, frisa.
Essa abordagem se reflete em diversas iniciativas promovidas pelo museu, como festivais gastronômicos e cinematográficos indígenas, além de um Observatório das Tecnologias Sociais, desenvolvido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Instituto Mamirauá. “O projeto mapeou 100 tecnologias sociais utilizadas na região amazônica, destacando práticas sustentáveis e soluções que podem ser aprimoradas para impulsionar o desenvolvimento local. Não adianta você chegar somente com conhecimento científico. Você tem que saber das pessoas o que elas utilizam no seu dia a dia, o que elas valorizam, e aí, com o conhecimento científico, tentar dar um upgrade nisso”, pontuou.
A interação entre povos tradicionais e a floresta não se trata apenas de ocupação territorial, mas de um processo ativo de criação e inovação. “O presente e o futuro têm chance se fizer essa aliança entre o conhecimento tradicional e o conhecimento científico, e isso não é só discurso, a gente faz isso na prática”, destacou Gabas Jr. Com essa perspectiva, o MPGE busca fortalecer a autonomia das comunidades e ampliar a visibilidade de suas contribuições para a sustentabilidade da Amazônia.
Estrutura
pessoal
- Atualmente, o Museu conta com um quadro de 178 servidores no total, entre pesquisadores (38), tecnologistas (13), analistas, técnicos e assistentes de pesquisa, e 38 bolsistas do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Além disso, há alunos de pós-graduação vinculados ao Museu, que contribuem para a elaboração de artigos e a descoberta de novas espécies.