Empresas brasileiras se mobilizam para destacar soluções sustentáveis na COP-30

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A realização da COP-30 em Belém, marcada para este ano, representa uma oportunidade estratégica para que empresas brasileiras se integrem mais ativamente aos debates globais sobre os desafios ambientais e econômicos. Além de apresentarem soluções sustentáveis desenvolvidas no país, as companhias terão a chance de fortalecer parcerias e ampliar sua presença na agenda climática internacional.

Para Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a COP-30 representa uma oportunidade única para que empresas, governo e demais representantes brasileiros mostrem ao mundo não apenas a riqueza da biodiversidade nacional, mas também os progressos alcançados em áreas estratégicas. Entre eles, estão a expansão da matriz energética limpa, a produção de biocombustíveis e os esforços da indústria na redução das emissões de gás carbônico.

“É uma grande oportunidade de mostrar essas vantagens comparativas para o mundo e, mais do que isso, de mostrar que elas podem ser transformadas em competitividade”, afirma Bomtempo.

Na avaliação de Guarany Osório, professor e pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as empresas que já se anteciparam na análise e redução das emissões de carbono em suas cadeias produtivas estarão em vantagem na nova dinâmica dos negócios. “Quem fez a lição de casa da agenda climática vai enxergar oportunidades e colher benefícios nessa transição para uma economia de baixo carbono”, afirma.

“Não é uma questão só ambiental, é uma questão econômica e financeira. Se uma empresa fez toda a lição de casa, ela tem o diagnóstico, um plano e uma estratégia, faz a gestão de risco, tem metas e sabe para onde está indo nessa agenda. Quem não está preparado é menos competitivo.”

Para o setor empresarial, a COP-30 vai além dos debates ambientais — trata-se também de uma vitrine internacional com potencial para atrair investimentos, abrir novos mercados e fortalecer a reputação corporativa. “É uma oportunidade de mostrar sua agenda e seu negócio. Tem bastante networking, e você pode fazer negócios a partir das interações na COP”, destaca Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Instituições como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estão mobilizadas para garantir a presença do setor produtivo brasileiro na COP-30. A entidade irá coordenar espaços dedicados a debates e apresentações de cases empresariais ao longo do evento. A lista completa de participantes e a programação oficial devem ser divulgadas apenas no segundo semestre, mas grandes empresas já confirmaram presença, entre elas Natura, Petrobras, Vale, Suzano, Ambev e Latam.

A agenda organizada pela CNI será estruturada em quatro pilares centrais: transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal. “Também organizaremos debates sobre questões regulatórias, inclusive regulações internacionais, principalmente as que têm impacto no setor produtivo”, afirma Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

“A COP é feita para todo tipo de empresa, para todo tipo de setor que esteja trabalhando na busca de uma economia mais verde e de uma transição de baixo carbono. A COP-30 no Brasil é uma oportunidade única de as empresas apresentarem os resultados de suas iniciativas”, diz Rubens Filho, gerente executivo de Meio Ambiente do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), iniciativa que reúne mais de 1.900 empresas no Brasil.

Além da programação oficial da COP-30, o Pacto Global da ONU no Brasil também organizará eventos paralelos durante a conferência, com o objetivo de fomentar a troca de experiências, promover debates e painéis temáticos, além de ampliar as oportunidades de networking voltadas à agenda climática. A iniciativa busca integrar diferentes atores do setor privado, sociedade civil e poder público em torno de soluções para a crise ambiental global.

“As empresas de energia que estão buscando novas tecnologias e novas oportunidades para uma transição justa saem na frente, têm uma oportunidade maior de expor resultados e criar conexões durante a conferência com outras empresas, governos e fundos de investimentos”, frisa Rubens Filho.

Davi Bomtempo, da CNI, também chama atenção para as empresas que vêm apostando em soluções baseadas na natureza, com ênfase na conservação de recursos hídricos. Ele destaca ainda iniciativas voltadas ao reflorestamento e à transição energética no setor de transportes como exemplos de práticas que devem ganhar visibilidade durante a COP-30.

Solução brasileira na vitrine

Um velho conhecido estará entre as soluções apresentadas pelo Brasil na COP-30: o etanol, desenvolvido no País na década de 1970. O combustível, que foi pioneiro na matriz energética brasileira, será a principal bandeira da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) durante a Cúpula de Belém. A entidade pretende destacar o etanol como uma alternativa sustentável e de baixo carbono, alinhada às metas globais de redução das emissões de gases de efeito estufa.

“O etanol é uma tecnologia consagrada. O grande objetivo da COP é encontrar caminhos para a descarbonização. O etanol já oferece, a um custo baixo e de maneira rápida e simples, essa descarbonização, com alto nível de sustentabilidade”, afirma o presidente da Unica, Evandro Gussi.

A pesquisa e o desenvolvimento nos últimos anos permitiram, segundo Gussi, avanços significativos na produção de etanol, com ganhos de eficiência e uma medição mais precisa dos níveis de emissão de carbono. Esses progressos são vistos como fundamentais para consolidar o etanol como uma solução sustentável, alinhada aos objetivos climáticos globais.

“Temos, por exemplo, novas variedades de cana-de-açúcar que entregam muito mais produtividade na mesma área. Ao lado disso, está acontecendo a substituição de óleo diesel por biometano nos tratores e caminhões usados no processo produtivo. O setor tem trabalhado fortemente para ter um etanol com neutralidade de carbono. E de médio para longo prazo, vemos o etanol com alto potencial de ser negativo em carbono”, diz.

Um avanço recente na produção de etanol é a captura e armazenagem de carbono, processo conhecido como CCS (Carbon Capture and Storage). “Estamos pegando o carbono gerado pela fermentação do etanol e realizando seu armazenamento geológico em profundidade”, explica o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), destacando essa tecnologia como um importante passo rumo à redução das emissões de carbono na produção do combustível.

“A grande entrega que o setor espera da COP é a desmistificação dos biocombustíveis. Por razões protecionistas e por falta de conhecimento, houve mitos sobre os biocombustíveis, sobretudo no ambiente europeu. Esperamos da COP o estabelecimento de critérios científicos e objetivos para construir a avaliação da sustentabilidade do etanol”, prossegue Gussi.

“Temos muita segurança sobre o etanol desenvolvido no Brasil. Ele não compete com a produção de alimentos e não produz desmatamento, ele precisa ter o reconhecimento objetivo e científico no âmbito internacional”, afirma.

Gussi destaca as oportunidades para o Brasil atrair mais investimentos externos na área de descarbonização e, ao mesmo tempo, ampliar seus mercados internacionais. No caso do etanol, as negociações estão avançando com países como Japão, Índia, Indonésia, Filipinas, Malásia e Colômbia, abrindo novas possibilidades para o Brasil consolidar sua liderança no setor de bioenergia.

Espaço para as micro e pequenas empresas

Entre as micro e pequenas empresas, diversas estão se preparando para marcar presença na COP-30, como é o caso da paranaense Haka, especializada na produção de combustíveis sintéticos. O Sebrae está organizando a participação dessas empresas, oferecendo suporte para que possam apresentar suas inovações e soluções sustentáveis durante a conferência.

“A expectativa é que empreendedores dos setores da bioeconomia, alimentos e bebidas regionais, turismo sustentável e tecnologias verdes estejam presentes em paineis e rodadas de negócios. Essas empresas trarão histórias reais de transformação, de soluções criadas a partir da floresta, do território, da sabedoria local”, afirma Décio Lima, diretor-presidente do Sebrae

“A presença delas na COP é estratégica porque amplia a visibilidade, atrai investimentos e conecta os pequenos negócios às grandes discussões sobre o futuro do planeta”, reforça Lima.

O dinheiro que financiará mudanças

Guarany Osório, da FGV, enfatiza que, embora a COP-30 seja um evento de grande importância para o Brasil, as mudanças climáticas exigem um compromisso constante das empresas. “Não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona, e a COP-30 é um ponto importante nesse percurso. Mas o mundo não começa nem acaba na COP. A agenda climática impõe custos significativos na transição energética, em diversas outras transições e também na mitigação dos efeitos dos eventos climáticos extremos”, ressalta Osório.

Rubens Filho, do Pacto Global, e Davi Bontempo, da CNI, ressaltam que o financiamento climático, tema de extrema importância para as empresas, estará em alta na COP-30.

Rubens Filho lembra que as últimas edições da COP discutiram a necessidade de alcançar US$ 1,3 trilhão para o financiamento climático. Para a COP-30 em Belém, ele destaca que estarão em pauta os mecanismos financeiros e os fundos disponíveis para ajudar as empresas a avançar na agenda climática.

Davi Bomtempo, da CNI, reforça que o financiamento será um dos principais temas da conferência. “O financiamento será um dos carros-chefe da COP-30 e é essencial para empresas de todos os níveis. Durante a COP, as empresas poderão acompanhar como isso está se desdobrando, qual será o volume disponível, como isso será operacionalizado e como terão acesso a financiamentos mais competitivos”, afirma Bomtempo.

Combustível tirado de resíduos sólidos é aposta de startup

A produção de combustíveis sustentáveis é um dos principais focos do Brasil na luta pela redução das emissões de gás carbônico. O País conta com diversas empresas, incluindo micro e pequenas, que desenvolvem soluções inovadoras além da tradicional cana-de-açúcar. No Paraná, a startup Haka Bioprocessos se destaca por transformar resíduos sólidos plásticos e até de origem animal em combustíveis sintéticos, contribuindo para a diversificação das fontes de energia limpa.

“A solução para os desafios climáticos já existe e está sendo desenvolvida aqui no Brasil”, afirma o engenheiro ambiental Cyro Hernandez Calixto, que quer apresentar na COP-30 as inovações da Haka, empresa da qual é idealizador e diretor executivo.

Ele pleiteia a participação na Cúpula do Clima e espera, para os próximos meses, uma resposta positiva do Sebrae, que organiza a presença de micro e pequenas empresas brasileiras na COP.

“Queremos posicionar a Haka como uma solução brasileira com potencial global para a descarbonização da economia”, diz Calixto.

“Participar é fundamental para mostrar que o Brasil possui tecnologia de ponta capaz de transformar um dos maiores passivos ambientais do planeta – o lixo – em energia limpa e valor econômico real.”

A Haka é seu primeiro empreendimento. “Trabalhei durante uma década na BRF reduzindo os efeitos de impactos ambientais da produção, principalmente na reutilização de resíduos animais”, relembra.

A startup possui 15 funcionários e opera sua planta-piloto no município paranaense da Lapa, em parceria com a metalúrgica Bosch Metal Liga.

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