Quase ninguém duvida que a crise climática deixou de ser um assunto restrito a especialistas e já afeta a vida cotidiana de todas as pessoas, com notícias cada vez mais frequentes sobre catástrofes que têm atingido diversas regiões do planeta, como furacões, queimadas e ondas de frio e calor extremos.
Os impactos da emergência vivida em nosso planeta sobre a saúde, entretanto, são menos evidentes. Para discutir o assunto, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) promoveu em Belém uma roda de conversa para fazer a conexão entre emergência climática e saúde.
“Queremos que a saúde tenha uma posição de maior destaque nas discussões da COP-30 e não há um lugar mais propício para realizar este debate neste momento do que Belém”, afirmou na ocasião a diretora-executiva de MSF-Brasil, Renata Reis.
Presente em mais de 70 países, MSF vivencia de maneira direta os impactos da emergência climática sobre as populações mais vulneráveis do planeta. As consequências mais visíveis são a maior frequência de desastres socioambientais, como inundações e deslizamentos. Mas existem desdobramentos mais profundos e menos perceptíveis.
“Secas ou inundações afetam a produção de alimentos, o que pode gerar uma crise nutricional e impulsionar movimentos migratórios”, explicou a secretária médica internacional de MSF, Maria Guevara, que participou do evento. “A mudança de regimes de chuva também afeta o ciclo de vida de vetores de doenças, como mosquitos, que se instalam em regiões onde antes não estavam presentes”, acrescentou ela, citando o avanço da dengue e da malária.
Outro aspecto importante destacado no encontro foi que a emergência climática afeta de maneira desigual as populações do planeta, tendo um impacto maior sobre aquelas que já são mais vulneráveis. “A estreita relação dos povos indígenas com o ambiente, somada a vulnerabilidades socioculturais, nos deixa mais expostos aos impactos das mudanças climáticas na saúde, particularmente quanto à insegurança alimentar e saúde mental”, afirmou o médico indígena Idjarrury Sompré, que trabalha com comunidades originárias na região de Santarém e atuou também no apoio a populações indígenas durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado.
MSF reforçou que espera que os debates da COP possam ser enriquecidos pelas experiências daqueles que enfrentam os efeitos da emergência climática tanto no Brasil como no resto do mundo. “Esperamos que esse diálogo que fizemos em Belém possa abrir caminho para que as discussões da COP fiquem cada vez mais focadas no interesse das populações mais vulneráveis”, destacou Renata Reis.