Com a proximidade da Conferência do Clima da ONU que será realizada em Belém, a economia criativa ganha ainda mais visibilidade entre artistas que buscam inspirar suas produções.
A escolha do Curupira, figura encantada da cultura brasileira e associada à proteção das florestas, como mascote oficial da COP 30, conferência climática da ONU que ocorrerá em 2025 em Belém (PA), já impulsiona empreendedores e artesãos locais na criação de produtos inspirados no personagem. De bonecos em impressão 3D a peças de crochê e cuias pintadas à mão, o símbolo se tornou uma nova aposta da economia criativa paraense.
A iniciativa é vista como uma oportunidade estratégica para o fortalecimento de negócios sustentáveis, econômicos e da identidade amazônica. “A COP 30 tem impulsionado o desenvolvimento de novos produtos e experiências, e a escolha do Curupira como mascote certamente vai ao encontro desse movimento”, afirmou Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará, em entrevista ao Ecoa.
Segundo ele, a figura é uma representação simbólica certeira: “O Curupira está diretamente associado à proteção das florestas. Incorporá-lo à identidade da conferência é uma forma eficaz de promover a sustentabilidade ambiental e valorizar a cultura amazônica.”
Economia criativa ganha fôlego
A movimentação em torno do mascote já rende frutos. O empresário Thiago de Moraes, da startup Tudo3D, iniciou ainda em 2023 o desenvolvimento de um boneco do Curupira com design inspirado nos populares bonecos Funko Pop. Feito com PLA, plástico biodegradável derivado do milho, o brinquedo é impresso em 3D, com acabamento e pintura manuais. A peça tem 12 cm e custa R$ 160, podendo ser adquirida pelo Instagram @mascotecop30.
“O boneco é ecologicamente correto e pode ser usado tanto como item colecionável quanto como brinde corporativo”, explica Moraes. Para divulgar o produto, o empreendedor criou uma narrativa em que o Curupira visita pontos turísticos de Belém, como a Estação das Docas, e veste camisas dos clubes do Remo e Paysandu, tradicionais na cidade.
Outra produção artesanal em destaque vem da artesã Silvia Valente, que confecciona o personagem em crochê na técnica japonesa amigurumi. A peça, com 35 cm de altura e cabelos flamejantes em laranja e amarelo, custa R$ 180. Silvia já vendeu exemplares em feiras e capacitou 30 pessoas para produzirem o boneco. “Comprei a receita assim que soube da possível escolha do Curupira. Levei ele até para a feira Mega Artesanal, em São Paulo, para divulgar”, contou.
A empreendedora pretende ampliar sua atuação oferecendo o personagem como brinde para empresas e realiza vendas pelo Instagram, com entregas em todo o país.
Tradições e adaptações
Na tradicional Feira da Diversidade, em Belém, a artesã Vânia Queiroz também notou o aumento do interesse pelo mascote. “As pessoas estão perguntando por ele. Por enquanto, só tenho a cuia pintada, mas quero lançar estampas do Curupira em ecobags”, disse. A cuia custa R$ 37.
Já na loja Bella Bijoux, no bairro da Campina, a aposta está na comercialização de adesivos DTF com a imagem oficial do personagem, usados para personalizar produtos como camisas, bolsas e chapéus. “Artesãos do Ver-o-Peso e da Praça da República usam o material para aplicar em seus itens com o ferro de passar”, explicou a vendedora Vanderly Rodrigues.
Apesar do entusiasmo crescente, a reportagem do Ecoa observou que muitos comerciantes do tradicional Mercado Ver-o-Peso ainda desconhecem a escolha do Curupira como mascote da COP. “Alguns disseram que nem sabiam”, revelou a reportagem. Um dos poucos exemplos no local é Alonso Santos, que vende um boneco de Curupira em látex, embora sem conexão direta com a conferência.
No entanto, na feira do Solar da Beira, parte do complexo do Ver-o-Peso, a artesã Ediléa Protásio já comercializa ímãs e broches com a inscrição “Mascote COP 30” e planeja expandir sua linha para camisas e bonecos de resina. “Já comprei a forma para a resina. Quero aproveitar o tema ao máximo, mas ainda falta mais divulgação”, comentou.
Símbolo ancestral e atual
Para o escritor e pesquisador Paulo Maués Corrêa, a escolha do Curupira como mascote da COP 30 é mais do que simbólica — é culturalmente acertada. “Ele é um protetor da natureza que atua, por exemplo, desorientando caçadores com seus pés voltados para trás. É uma figura que pune quem degrada, mas respeita quem vive da floresta”, explicou.
Corrêa é autor de obras como Anhanga, Curupira e Mapinguari – Protetores da Natureza e Histórias de Curupira, ambas publicadas pela editora Paka-Tatu. Segundo ele, o personagem já aparecia em registros dos jesuítas no século 16, como nos relatos do padre José de Anchieta.
O pesquisador também observa que, embora seja comumente representado como masculino, há registros da “Curupira” feminina, dependendo da região. “É uma figura que atravessa fronteiras — está presente em todo o Brasil e em partes da América do Sul, mas é na Amazônia que a lenda se mantém viva.”
Para Corrêa, a tradição ainda pulsa: “Entre caboclos e indígenas, é comum pedir licença ao Curupira antes de entrar na mata. Isso revela o respeito ancestral por esse espaço sagrado.”
Fonte: Portal UOL