A bioeconomia já movimenta cerca de R$ 9 bilhões no Pará e deve ganhar ainda mais força com a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), prevista para novembro deste ano (2025) em Belém. O setor é apontado como uma das principais alternativas para combinar desenvolvimento econômico e preservação ambiental na Amazônia.
De acordo com estudo da WRI Brasil, a bioeconomia tem potencial para adicionar R$ 45 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional e gerar mais de 800 mil empregos no Brasil até 2050. Só no Pará, a expectativa é de criação de mais de 6.500 novos postos de trabalho em um mercado que já se movimenta por meio do uso sustentável dos recursos da floresta.
Em âmbito global, dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que a bioeconomia movimenta aproximadamente dois trilhões de euros e emprega 22 milhões de pessoas. A entidade projeta que o setor representará 2,7% do PIB dos países membros até 2030, com potencial ainda maior em países ricos em biodiversidade, como o Brasil.
Para o engenheiro químico Raul Nunes, coordenador do Laboratório de Tecnologia Supercrítica (LABTECS/UFPA), o momento é de transformar o potencial da bioeconomia em realidade. “Temos que deixar de ser um eterno potencial de desenvolvimento. Temos que virar realidade produtiva, e a bioeconomia pode nos ajudar nessa transformação econômica”, afirma. O laboratório utiliza tecnologias limpas para extrair bioativos de frutos, plantas amazônicas e resíduos vegetais, que são aplicados nas indústrias de cosméticos, alimentos e medicamentos.
Raul destaca que esse tipo de produção ativa toda a cadeia produtiva, do plantio ao processamento e comercialização nacional e internacional. Ele ressalta ainda o papel da COP 30, que deve impulsionar o setor ao colocar a Amazônia no centro das discussões globais sobre clima e sustentabilidade. “Temos que mostrar a nossa riqueza humana: a grandeza dos nossos povos tradicionais, das nossas universidades, dos centros e institutos de pesquisa. Precisamos ser respeitados não somente pelo nosso ecossistema, mas pelo que representamos na manutenção da floresta e na capacidade de aproveitá-la sem destruir nossas riquezas naturais”.
Bioeconomia incentiva novas profissões e empreendedorismo
O crescimento da bioeconomia também impulsiona novas profissões, como especialistas em biotecnologia, engenharia ambiental, química verde, produtores de cosméticos naturais, técnicos em logística sustentável, artesãos de biojoias, além de guias e operadores de turismo comunitário.
Um exemplo de empreendedorismo na área é Ingrid Teles, engenheira de produção que fundou uma startup focada no reaproveitamento de caroços de açaí para produzir cosméticos sustentáveis e sistemas de tratamento de água para consumo humano. “Nós nascemos com esse propósito, de buscar soluções para problemas da sociedade, transformando resíduos em novos produtos e agregando valor a eles”, explica Ingrid. O negócio ainda tem impacto social: para cada produto vendido, são doados 5 litros de água para comunidades ribeirinhas.
Programas fortalecem empreendedorismo sustentável na Amazônia
O apoio institucional é considerado fundamental para o desenvolvimento desses empreendimentos. O Sebrae Pará, por meio do programa Inova Amazônia, ofereceu bolsa e suporte técnico para a startup de Ingrid, além de promover programas como NISA (Negócios de Impacto Socioambiental) e NISA Delas, focado em mulheres empreendedoras. A instituição também atua na capacitação, conexão com investidores e oferta de editais públicos.
“A bioeconomia é uma das grandes apostas do Sebrae Pará para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, destaca Renata Batista, gerente de Sustentabilidade e Inovação do Sebrae. “Esse mercado está em expansão e representa uma oportunidade real de geração de renda, inclusão social e valorização da biodiversidade amazônica.”
Com a COP 30, a expectativa é que a bioeconomia no Pará intensifique o crescimento do estado, ao fortalecer a economia local e o compromisso com a preservação ambiental.
Fonte: Jornal Folha do Progresso