Belém recebe espetáculo que une música e ancestralidade amazônica

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Belém será palco de um encontro inédito entre a música sinfônica e as tradições dos povos da floresta. Nos dias 08 e 09 de outubro, o Theatro da Paz recebe a estreia brasileira da obra “Águas da Amazônia”, do compositor norte-americano Philip Glass, em uma releitura que integra concerto orquestral, projeções audiovisuais e performances de artistas indígenas e amazônicos.

A apresentação chega a um mês da COP30, conferência global sobre mudanças climáticas que será sediada na capital paraense em 2025. Inédita no Brasil, a montagem marca o retorno simbólico da obra à Amazônia, território que a inspirou, mais de três décadas após a criação. Gravada originalmente em parceria com o grupo mineiro Uakti, a peça mistura o minimalismo norte-americano com as sonoridades e espiritualidades amazônicas.

O espetáculo é uma realização da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob regência do maestro Miguel Campos Neto. Para ele, a nova versão representa o encontro entre dois olhares sobre a floresta. “O Águas da Amazônia é, para mim, um encontro entre visões. Temos um compositor que não nasceu aqui, mas que traduziu em música os rios e a paisagem da Amazônia, e temos uma orquestra amazônida, conduzida por um regente que também é da região. É essa junção entre a visão de fora e a de dentro que dá força à obra: uma leitura universal da Amazônia feita com os olhos do mundo, mas interpretada a partir de dentro, no coração da floresta”, explica.

Além da música, o espetáculo contará com projeções criadas por dez artistas indígenas e amazônicos contemporâneos, entre eles Daiara Tukano, Bu’u Kennedy, Wira Tini, Auá Mendes e Duhigo. As imagens, inspiradas em histórias e saberes de diferentes etnias, serão exibidas durante o concerto, ampliando a experiência visual e conectando o público à diversidade da região.

A idealizadora e diretora artística do projeto, Natália Duarte, destaca que o objetivo é aproximar a obra do território que a originou. “Este projeto amadureceu ao longo de anos, desde que percebi o potencial de trazer ‘Águas da Amazônia’ de Philip Glass ao território dos rios que a inspirou. Mas não queríamos apenas executar a música, queríamos mostrar a vida que pulsa nesses territórios: a fauna, a flora, mas principalmente os mitos, as histórias, a espiritualidade e a diversidade dos muitos povos que vivem junto com esses rios”, afirma.

Natália ressalta que cada rio da Amazônia é habitado por povos com saberes milenares e culturas diversas. Segundo ela, o momento é oportuno para mostrar ao mundo essa riqueza. “Aproveitamos este momento em que os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia, especialmente com a proximidade da COP30, para promover encontros transformadores entre diferentes tradições musicais, artes visuais e narrativas territoriais”, reforça.

O projeto também tem caráter educacional e social. Em parceria com o Laboratório de Etnomusicologia da UFPA, foram promovidas oficinas com jovens das Escolas de Aplicação da universidade, para aproximar o público estudantil da produção artística e estimular o protagonismo cultural local.

Para a diretora de produção Joelle Mesquita, as ações formativas ampliam o alcance do espetáculo. “Ao envolver jovens da região, estimulamos a apropriação crítica da cultura local, incentivamos novas gerações a se verem como protagonistas de suas narrativas e oferecemos ferramentas criativas para que possam comunicar o que vivem. Esses desdobramentos criam pontes entre arte, educação e cidadania”, explica.

A peça de Philip Glass é composta por movimentos que levam o nome de rios emblemáticos da bacia amazônica, como Negro, Tapajós, Purus, Xingu e Amazonas. Na nova leitura, esses rios ganham protagonismo e se tornam personagens que conduzem o público em uma travessia musical e espiritual.

Para o maestro Miguel Campos, a música é uma forma de traduzir a essência da floresta. “Mais do que encantar, esse espetáculo busca revelar a relevância da Amazônia em todas as dimensões (natural, cultural e humana). Porque a floresta é riqueza para o planeta, mas sobretudo é casa de quem a habita e a defende em primeiro lugar”, destaca.

Com mais de 80 profissionais envolvidos, entre artistas, técnicos, educadores e comunicadores, a produção é inteiramente realizada por mão de obra local. “Produzir este projeto em Belém significa mobilizar e valorizar nossa cadeia produtiva cultural local. Não é apenas sobre executar um espetáculo, mas sobre criar redes profissionais e demonstrar que Belém tem infraestrutura e capital humano qualificado para sediar produções de alta complexidade”, ressalta Joelle.

Natália Duarte reforça que a força da montagem está no diálogo entre linguagens e perspectivas. “Ao integrar a música sinfônica com as artes visuais indígenas e as narrativas dos povos dos rios, criamos camadas de significado que se complementam e se amplificam. A obra nos dá a estrutura musical, mas são os artistas da floresta que trazem a alma, os significados profundos e as conexões reais com o território”, conclui.

Serviço

Espetáculo Águas da Amazônia – Rios e Povos

  • Datas: 08 e 09 de outubro de 2025
  • Local: Theatro da Paz – Belém/PA
  • Direção artística: Natália Duarte
  • Regência: Miguel Campos Neto
  • Artistas convidados: Djuena Tikuna, Trio Manari e artistas visuais indígenas
  • Ingressos: retirada gratuita a partir das 18h na bilheteria do Theatro nos dias do espetáculo
  • Classificação: livre

Texto: Júlia Marques com informações da assessoria de imprensa.

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