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Cintia Magno de Baku, no Azerbaijão – O trabalho que já vem sendo desenvolvido nas periferias de Belém para ampliar o debate sobre mudanças climáticas foi tema do painel “Descentralizar as discussões da COP”, realizado na terça-feira (19), no estande da Regional Climate Fundations, na COP29, em Baku. Faltando pouco menos de um ano para a COP30, a programação mostrou como as periferias vêm se mobilizando em torno do tema.

Além de iniciativas que conseguiram descentralizar decisões, espaços de discussão, reuniões e agendas relacionadas a COPs anteriores, o painel também abordou as experiências de propostas em andamento para a COP30, como é o caso da Yellow Zone, uma iniciativa da sociedade civil local de Belém, através da Coalizão COP das Baixadas.

Desde o início do projeto que nasceu ainda na COP28, em Dubai, duas Yellow Zones já foram implantadas em Belém, uma na Vila da Barca e outra no Gueto Hub, no bairro do Jurunas. E a expectativa é de que outras duas sejam inauguradas até o final do ano.

Membro da comissão executiva da COP das Baixadas, Ruth Ferreira, de 24 anos, explica que as Yellow Zones são espaços que visam descentralizar o debate climático e ainda deixar um legado para as comunidades periféricas.

“As Yellow Zones atendem muito a demanda territorial, então, é empreendedorismo, cultura, lazer, cursos, hotelaria comunitária, é o que a comunidade quer e o que a comunidade precisa. Então, a partir dessas demandas a gente atende também essa questão de educação climática, a contrapartida para a população entender mais sobre o que são essas mudanças climáticas a partir da vivência dela, mas também para incentivar a lutar pela justiça climática”.

Já colhendo resultados desse trabalho de mobilização, os membros da coalizão puderam apresentar as iniciativas à COP29, ambientando o cenário que muitos dos participantes que estão aqui poderão encontrar em Belém no ano que vem.

Outro integrante da delegação da COP das Baixadas que está em Baku, Andrew Matheus Leal destacou a importância de levar a voz das periferias de Belém para o espaço da COP29. “Para a gente é extremamente importante, principalmente para quem vem da periferia. Eu mesmo venho da baixada da Terra Firme, então, tem um significado diferente para a gente estar aqui, né?”, considera.

“Estar aqui hoje falando um pouquinho sobre todo o nosso trabalho das baixadas é muito significativo e também já conseguindo transmitir tudo isso que a gente tem feito para essas pessoas que estarão na nossa cidade no ano que vem é muito importante também para que elas já saibam também como é essa cidade, como ela funciona, como são as nossas periferias, como é a dinâmica que acontece no dia a dia, nas nossas baixadas e comunidades”. A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade – iCS)

Painel

Também integraram o painel Jean da Silva, da COP das Baixadas; Ezio Costa Cordella, da ONG FIMA, e Carmem Duce Diaz, da Confederal Ecologistas em Accion, que falaram sobre experiências de descentralização das discussões climáticas no Chile e na Espanha.

Presenças de jovens e adolescentes nos debates

Caso o mundo não consiga limitar o aquecimento global nos próximos anos, a juventude será a mais afetada pelas consequências das mudanças climáticas. De acordo com o relatório ‘Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil’, elaborado pela Unicef, 40 milhões de meninas e meninos já estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental no Brasil. Neste cenário, não é difícil compreender o interesse dos jovens nas discussões que se desenrolam em Baku, na 29ª Conferência do Clima da ONU.

Entre a multidão que transita pelos corredores do Estádio Olímpico de Baku, onde a cúpula do clima deste ano é realizada, é possível ver os rostos de jovens e adolescentes de diferentes regiões do mundo. Reunidos em grupos, eles acompanham os desdobramentos da conferência desde o primeiro dia e, em muitos casos, esta nem é a primeira COP deles.

O jovem graduando de relações internacionais, Luan Werneck, já acumula a experiência de participar da sua quarta conferência do clima. Ele explica que faz parte da equipe do The Climate Reality Project Brasil, organização fundada pelo Nobel da Paz Al-Gore, e que mantém um programa voltado para desenvolver e capacitar jovens do Norte e Nordeste brasileiro para se tornarem os líderes do futuro, por meio do conhecimento em negociações climáticas e política climática internacional.

“A gente fez o treinamento durante praticamente um ano com jovens de todo o Brasil voltado, principalmente, para as regiões Norte e Nordeste e esses jovens estão, hoje, aqui na COP29 acompanhando oito temas de negociação e fazendo um trabalho de democratização e divulgação científica do que está sendo discutido dentro da sala de negociação”.

A partir da atuação direta desses jovens nas agendas de negociação, o projeto deverá produzir relatórios com uma linguagem simplificada para que qualquer pessoa consiga entender quais são essas trilhas de negociação, ou seja, quais são esses temas que estão sendo debatidos por diplomatas de todo o globo.

Também membro do The Climate Reality Project Brasil, o jovem paraense Thalison Correa participa da sua primeira conferência do clima em Baku e acompanha as discussões relacionadas à educação climática. Para isso, dentre as estratégias está a de ir a todos os pavilhões dos países para tentar entender o que cada um deles está fazendo sobre educação climática.

“Uma coisa que a gente pôde perceber aqui é que tem muita coisa sendo feita, mas as coisas são feitas de forma separada. Tem muito país que faz coisa sobre educação climática, tem muitos estados que fazem coisas sobre educação climática, mas cada um fica no seu local, a gente não se comunica, então, uma grande palavra que eu trago para mim dessa COP29 é colaboração. Tem muita gente fazendo muita coisa legal separada, a gente precisa se juntar para a gente trilhar um caminho para a COP30 e chegar lá colaborativamente”.

Quem também acompanha os desdobramentos da COP29 já com o olhar voltado para a COP30, de Belém, são os jovens da COP das Baixadas. Parte da delegação do coletivo que está presente em Baku, Waleska Queiroz destaca a importância da atuação não apenas como juventude, mas sobretudo representando um movimento da sociedade civil construído por uma juventude periférica da Belém e sua região metropolitana.

“A gente faz incidência aqui na COP também para entender o que é a adaptação, o que é mitigação e quais as principais tomadas de decisão que estão sendo feitas aqui, os acordos globais, porque a gente quer levar toda essa informação para o nosso território, uma vez que Belém ano que vem vai sediar a COP30. A população precisa estar informada disso e a juventude tem um papel essencial nessa mobilização, nessa articulação, uma vez que também a juventude é essa nova geração que vai ter que lidar com esses impactos da emergência climática”.

Importância

A jovem indígena do povo Omágua Kambeba, Taissa Silva da Costa, 13 anos, mora na Aldeia Tururukari-Uka, em Manaus e lembra que, na sua região, as secas e enchentes desenfreadas já vêm impactando a vida da população. Daí a importância de levar a sua voz e de outros jovens que já enfrentam os impactos da emergência climática para a COP.

“É muito importante que eles possam escutar a gente e ver como o nosso ver é diferente do deles, o quão importante é a nossa fala diante de cada painel, e mostrar pra eles que a gente é capaz da nossa fala, que a nossa fala é potente e que o nosso clamor pelos nossos direitos é muito alto”.

Taissa participa da sua segunda COP, em Baku, acompanhando uma delegação de cinco crianças do Sul Global acompanhadas por um programa do Instituto Alana que visa proporcionar que a própria juventude advoque pelos seus próprios direitos nos espaços da conferência do clima, além de falar sobre suas experiências.

Eixos temáticos

Dentro dos eixos temáticos que compõem a programação da COP29, a segunda-feira (18) foi o dia destinado ao Capital Humano, Infância e Juventude, Saúde e Educação.

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