O que você pensa quando ouve falar em Amazônia? Quais imagens você rapidamente (re)cria e associa à essa região? Sabemos que estas perguntas não são raras, podem até ser consideradas clichês, mas elas podem colaborar para entender um contexto bem mais amplo, em que tais imagens podem ser midiatizadas e mesmo “padronizadas”.
Mesmo que tenhamos nascido ou sejamos moradores de algum grande centro urbano amazônico, estas imagens e imaginários por vezes surgem como uma construção idealizada.
Se você pesquisar o termo “Amazônia” (ou mesmo “Amazonia”) na área de imagens em algum buscador da internet, como Google, Bing ou Yahoo!, o resultado será áreas de floresta, rios, povos originários e animais.
A Amazônia parece ser um “só corpo”, sem muitas especificidades. Nós, amazônicos, sabemos que a região não é somente isto. É justamente por conhecermos a diversidade da região que sabemos que sua representação pode ser mais diversa.
A imagem da Amazônia não é nova e tem muito a ver também com o processo de invasão no século XVII e com a necessidade de ampliação da população e povoamento com a chegada de vários migrantes.
A região passa a ser apresentada, de um lado, como um paraíso, uma terra de fartura e oportunidade. De outro, um inferno verde, selvagem, quase que uma área de expiação para algumas pessoas que buscam melhores condições.
Com isso, é possível observar que, desde os séculos passados, houve a construção de uma “marca” sobre a floresta.
Para tentar entender a criação da “marca Amazônia”, o professor Otacílio Amaral Filho estudou o processo e defendeu a tese “A Marca Amazônia: uma promessa publicitária para fidelização de consumidores nos mercados globais”, resultado do doutorado apresentado em 2008, no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“A marca Amazônia é uma apropriação dos produtos da biodiversidade, da experiência cultural e da economia da região. É uma promessa publicitária que agrega um valor mercadológico e simbólico a qualquer produto que tenha origem na região. O valor simbólico tem como garantia um imaginário povoado pela natureza representada pela floresta e seus produtos”, explicou o autor em entrevista ao DOL.
Segundo Otacílio, vamos encontrar no mercado diversos produtos que usam a “expressão Amazônia” e outros que são relacionados com a floresta, como animais, rios, povos originários, tradicionais e indígenas.
“O princípio da marca está no imperativo ecológico a partir do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social e se atualiza com o que estamos chamando hoje de bioeconomia. A virada de chave atual é aproximar-se da experiência destas populações sociodiversas e da lógica ecológica que elas praticam há séculos e trazê-las para o mercado na forma de mercadoria”, detalhou.
Desta forma, “preserva-se” a região não apenas para fortalecer o marketing em torno dela, mas para fortalecer o posicionamento de empreendimentos e, em última etapa, atrair mais consumidores.
Com a COP 30 sediada em Belém em 2025 o uso da “Marca Amazônia” pode ganhar cada vez mais notoriedade.
“Penso que o uso da “Marca Amazônia” atingiu o seu ponto excelente na lógica do marketing e como estratégia publicitária neste momento por que passa a Amazônia, entre o enfrentamento das invasões, da mineração, dos garimpos e a cultura riquíssima das nossas populações. É sem dúvida uma garantia e um ativo para as empresas que estão no mercado e estas que estão surgindo guiadas de forma objetiva por esta outra economia”, afirmou o professor.
Para Otacílio, o “ponto fraco” é que a conferência será “uma arena de disputa desta discussão sobre o ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade pela lógica do capitalismo financeiro”.
Neste contexto, ao longo dos últimos anos, várias pesquisas foram realizadas para compreender as interfaces desta “marca”, como “Novos tons para (re)conhecer a Amazônia: análise das representações e imaginários da possível ‘Marca Amazônia’ no ciberespaço no período contemporâneo”, pesquisa apresentada em 2017, pelas publicitárias Camila Braga, Danielly Angélica e Elen Silva.
Na pesquisa, onde fizeram um apanhado sobre propagandas, resultados das pesquisas em buscadores e publicações feitas com o uso de hashtags como “Amazônia”, elas observaram que a região segue sendo relacionada a elementos naturais, mas também à sua destruição.