Bioimpressora 3D beneficia desde a saúde até a agricultura

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Cintia Magno/Diário do Pará: A partir dos princípios da manufatura aditiva, tecnologia que é popularmente conhecida como impressão 3D, é possível criar objetos tridimensionais, camada a camada, a partir de um modelo virtual. A tecnologia, muito utilizada nas áreas da engenharia civil ou do design, também pode ser aplicada para criar estruturas biológicas que podem ser aproveitadas nas áreas da saúde.

Primeiro laboratório da Universidade Federal do Pará (UFPA) a possuir uma bioimpressora 3D, o Laboratório de Biomateriais, Bioprodutos e Tecnologias de Biofabricação (Labbio 3D) não apenas aplica a técnica como já teve a sua atuação reconhecida por mais de dez prêmios em editais de inovação e pesquisa científica.

A professora adjunta da Faculdade de Biotecnologia (ICB/UFPA) e coordenadora do Labbio 3D, Marcele Fonseca Passos, explica que o laboratório desenvolve órteses, biocurativos, biocosméticos, biofertilizantes e fertilizantes organominerais. Especialmente no caso do desenvolvimento dos biocurativos que utilizam como base recursos naturais da região, a bioimpressora 3D possui um papel fundamental.

“A diferença é que você consegue associar materiais junto com células ao mesmo tempo. Então, você tem aí uma combinação de fatores químicos e biológicos que conseguem mimetizar, imitar estruturas biológicas, diferente do que a gente utiliza na manufatura convencional”, diz.

“Então, o diferencial é o que a gente chama de matéria prima. A matéria prima que a gente utiliza é uma combinação de células, fatores de crescimento que vão estimular o crescimento dessas células, a formação de novos tecidos, juntamente com os biomateriais, que são materiais, substâncias químicas que a gente adiciona no processo”, explica, ao considerar as diferenças entre a bioimpressão 3D e a impressão 3D convencional.

“A gente tem utilizado essa bioimpressora para desenvolver biocurativos tridimensionais porque a gente consegue fazer uma combinação de fatores de crescimento, materiais, substâncias químicas, células e esses bioativos que são oriundos aqui da Amazônia, alguns típicos do Estado do Pará, inclusive”.

Desenvolvidos a partir desta tecnologia de bioimpressão 3D, esses biocurativos têm o potencial de serem utilizados em feridas crônicas provocadas, por exemplo, por diabetes.

A membrana associada ao bioativo da copaíba, quando aplicada à ferida, tem a capacidade de absorver o pus e, ao mesmo tempo, liberar substâncias que vão favorecer o processo de cicatrização, reduzindo infecções bacterianas. Mas a pesquisadora reforça que a copaíba é apenas um dos bioativos amazônicos cuja aplicação vem sendo pesquisada no laboratório. “A gente tem utilizado não somente a copaíba, mas a gente tem feito todo um levantamento e investigado diferentes óleos”.

Marcele explica que, inicialmente, os estudos partem do princípio do que já se conhece em termos de saberes populares, ou seja, do conhecimento tradicional associado àquele bioativo e aos benefícios que são creditados a ele. Posteriormente, essa eficácia é avaliada cientificamente.

“A gente faz um levantamento para saber se já teve algum estudo relacionado a um componente majoritário desse óleo, à substância principal presente nesse óleo e, a partir daí, a gente desenvolve toda essa formulação, toda essa estrutura e verifica a viabilidade, fazendo desde os ensaios mecânicos, físicos, químicos e, por fim, os biológicos. Isso já leva bastante tempo porque tem toda a parte dos testes in vitro, que é a etapa preliminar para depois ir para os testes in vivo, em animais”.

Além de desenvolver biocurativos que possam ser especialmente eficazes no tratamento de feridas, o objetivo das pesquisas desenvolvidas no Labbio 3D nesse campo é possibilitar que esses materiais cheguem até a população através do Sistema Único de Saúde (SUS).

“O nosso laboratório tem muito o foco em desenvolver materiais que possam atender ao SUS. A gente tem outras perspectivas, ainda dentro de biomateriais, e que a gente quer justamente devolver esse conhecimento para a sociedade”, considera a professora.

“A gente tem materiais, a gente tem biomateriais, a gente tem curativos que já fizemos muitos ensaios e que a gente acredita que, inclusive, já estão em uma etapa muito avançada e que a gente precisa de parcerias, de um fortalecimento para que isso possa chegar ao SUS com um valor que vai ser muito vantajoso para todos os lados: para a sociedade, para o próprio governo e para a academia em si”.

AGRICULTURA

Ainda com o foco na transferência de tecnologia para a sociedade, o Labbio 3D também possui uma vertente de desenvolvimento de produtos que possam atender ao setor agropecuário. Os produtos desenvolvidos para esta área são produzidos a partir de processos nanoestruturados e com resíduos agroindustriais.

“Todo o nosso processo é altamente sustentável, visando uma agricultura verde e com o foco, também, de levar esses produtos para pequenos produtores para que eles possam melhorar as suas diferentes culturas. A gente tem observado diferentes tipos de pragas que vem acometendo, por exemplo, na cultura do açaí e em uma grande fonte de renda que fortalece a bioeconomia aqui no estado do Pará, que é o cacau. Então, a gente tem prospectado produtos, dentro dessa vertente, que tragam não só o retorno para os pequenos agricultores, mas também para o próprio meio ambiente porque toda a base, toda a matéria-prima do desenvolvimento dos nossos produtos é sustentável”.

Entre as frentes de atuação está o desenvolvimento de biofertilizantes a partir de resíduos agroindustriais, o que pode, além de reduzir os custos, proporcionar menor impacto ao meio ambiente. “A gente utiliza desde resíduos agroindustriais até materiais que são altamente biodegradáveis para que a gente não impacte o meio ambiente. Materiais que não têm custos tão elevados, de forma que o produto possa ser aplicado por pequenos produtores”, explica.

“Vemos que há um grande potencial desses produtos para os pequenos agricultores, em termos de, inclusive, agregar valor aos seus produtos. Em termos econômicos, podemos nos tornar menos dependentes da compra de fertilizantes externos, onde sabemos que, por questões sociopolíticas, por exemplo, somos impactados com preços muito elevados. Então, o nosso objetivo é que os nossos fertilizantes sejam de liberação controlada e que a gente possa ter uma menor quantidade de ativo possível, mas com eficiência muito mais elevada”.

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