Estado possui um rico patrimônio histórico e cultural

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Luiz Flávio/Diário do Pará – Através do patrimônio de um estado ou cidade é possível conhecer e identificar a história, a cultura, a arte, os costumes, a religião e as tradições de um povo. A preservação do patrimônio histórico é uma forma de garantir o direito à memória individual e coletiva das populações.

O Estado do Pará possui um dos mais ricos e diversos patrimônios históricos do país, espalhado pela capital e vários municípios paraenses. Assim, o DIÁRIO DO PARÁ inicia hoje a publicação de uma série de reportagens dentro do projeto “Conheça o Pará por dentro”, que pretende mostrar para a população paraense e de fora as riquezas e potenciais do nosso Estado nas mais diversas áreas, começando pelo patrimônio histórico.

A iniciativa faz parte da série de projetos desenvolvidos pelo grupo com vistas à COP 30, maior evento climático do planeta que vai ocorrer na capital em novembro deste ano. A ideia é promover um olhar aprofundado sobre os principais aspectos que definem o estado do Pará, abordando temas relevantes para o desenvolvimento da economia, cultura e biodiversidade do nosso Estado.

Existem hoje no estado do Pará, em nível federal, cerca de 50 bens materiais tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sendo que aproximadamente 40 deles se concentram na capital e o restante em 10 municípios paraenses. Com relação ao Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico Cultural do Pará (DPHAC), que responde pela esfera estadual, o número de tombamentos chega a aproximadamente 70 bens culturais – cerca de 50 deles se concentram na capital e o restante em 12 municípios.

Com relação a instância municipal, a Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL) é responsável por cerca de 3.000 bens tombados na cidade, dentre estes estão monumentos, praças, coretos e edificações arquitetônicas de períodos e estilos diversos – barroco, neoclássico, art nouveau, dentre outros.

Importância

Sobre a importância dos bens tombados a historiadora e antropóloga Dayseane Ferraz ressalta, no caso de Belém, o conjunto arquitetônico localizado na Praça Frei Caetano Brandão, que inclui o antigo Colégio Jesuítico e Igreja de Santo Alexandre; o Forte do Presépio, a Catedral de Belém; o antigo Hospital Militar (atual Casa das 11 Janelas).

“Podemos citar ainda o Palácio do Governo, atual Museu do Estado do Pará. Este então chamado Núcleo Cultural Feliz Lusitânia se tornou referência nacional e internacional na preservação do Patrimônio Histórico, transformando a Cidade Velha num cenário cultural musealizado desde a inauguração do Museu de Arte Sacra (1998), e os demais museus inaugurados em 2002, aproximando ainda mais a sociedade do seu patrimônio”, destaca.

Em nível federal, depois de Belém, vale ressaltar que Óbidos possui um conjunto importante de tombamentos correlatos a ocupação e a defesa militar desde o período colonial. “À exemplo disso temos o Forte de Óbidos, os vestígios ou ruínas do forte da Serra da Escama, exemplares de artilharias como canhões militares – tombados entre os anos 80 e primeira década dos anos 2000”, comenta.

Ela cita ainda o município de Vigia, que possui tombada a Igreja da Madre de Deus e seu acervo desde 1950. “Oriximiná tem um Quilombo tombado em 1995; Vila do Conde possui a Igreja que está em instrução para tombamento, dentre outros bens que estão ou serão protegidos em nível federal”, cita.

Igreja de Pedra em Vigia (Foto: Mauro Ângelo).

O DPHAC realizou ainda diversos tombamentos em outros municípios como Castanhal, no qual foi tombado o conjunto ferroviário da antiga Estrada de Ferro de Bragança (locomotiva, carro de passageiros, carro de lenha e carro de consertos) em 1982.

“Em Santa Izabel a bela edificação do Colégio Antônio Lemos, tombada em1982. Em São Geraldo do Araguaia há o tombamento da Serra das Andorinhas, com seu acervo histórico, arqueológico, paisagístico e ambiental, desde 1989. Em Bragança, é importante citar o tombamento da Igreja e São Benedito e seu acervo, que caracteriza muito a cultura do lugar”.

Dayseane, que também é professora, lembra que a partir de 2000 foi baixado o decreto 3.551 que passou a registrar e proteger os bens imateriais a exemplo: o Círio de Nazaré, o Carimbó, a Capoeira tidos como patrimônio imaterial do Brasil. “Ou seja, a noção de bens cultural, que é usufruído e vivido pela sociedade abarca bens materiais – prédios, obras de arte, objetos – mas também os bens imateriais que dizem respeito, às crenças, saberes e fazeres de um povo. Em todos estes aspectos reside a importância do Patrimônio”, observa a especialista.

Grande parte do patrimônio histórico do Estado se concentra na capital paraense, como o Complexo Arquitetônico Feliz Lusitânia. O espaço é formado pela Igreja de Santo Alexandre, o Forte do Presépio, a Igreja da Sé, a Casa das Onze Janelas e a Praça Frei Caetano Brandão.

Outro espaço importante é o Palacete das Onze Janelas, marco urbanístico importante da capital erguido no século XVIII, por Domingos da Costa Bacelar. Em 1768, foi convertida em hospital militar pelo governo do Grão-Pará. A casa teve funções militares entre 1870 até 2001, quando foi comprada pelo governo estadual para servir como ponto turístico da capital.

O Museu de Arte Sacra possui estilo barroco Amazônico. A versão atual foi concluída em 1719 e seu convento é o complexo jesuíta mais importante do Brasil, foi recentemente restaurada para receber o Museu de Arte Sacra. O Museu é composto pela Igreja de Santo Alexandre e pelo Palácio Episcopal (antigo Colégio de Santo Alexandre). A igreja é um exemplar da arquitetura jesuítica no Brasil, teve o início da sua construção por volta de 1698 e inauguração a 21 de março de 1719.

Catedral Metropolitana de Belém ou igreja da Sé, começou a ser construída em meados de 1748 sendo totalmente concluída em 1782 por Antônio Landi. É da Sé que, todos os anos, sai o Círio de Nazaré, a maior procissão católica do mundo. Perto a catedral está a Ladeira do Castelo, primeira rua de Belém. Na verdade, é a Rua Siqueira Mendes, antiga Rua do Norte. Há casos em que a Ladeira do Castelo costuma ser registrada como a primeira rua da cidade de Belém, localizado ao lado do Forte do Presépio, ligando a Praça da Sé a Feira do Açaí.

Ver-o-Peso

O centro comercial de Belém, onde a cidade nasceu, foi onde começou a construção do grande acervo patrimonial e histórico da capital. É nessa região que está a feira do Ver-o-Peso. O Ver o Peso – conhecido, nessa época como Mercado de Ferro – começou a ser construído em 1899. Já o Mercado de Carne (Mercado Municipal ou Mercado Bolonha), foi construída pelo engenheiro Francisco Bolonha. As vias construídas com pedras portuguesas, como a Rua João Alfredo e a Feira do Açaí, dão um charme especial ao centro comercial.

Ainda na área central de Belém, está o Theatro da Paz, importante símbolo do tempo áureo do Ciclo da Borracha. Antigo Teatro Nossa Senhora da Paz, foi construído entre 1874 e 1878, com projeto original do engenheiro militar José Tibúrcio de Magalhães.

Palácios

Os palácios e palacetes erguidos em Belém marcaram épocas áureas vividas por Belém. Talvez um dos mais emblemáticos seja o Palacete Pinho, localizado na Rua Dr. Assis, no bairro da Cidade Velha. É um dos exemplares mais característicos que marcaram, no fim do século XIX, o ápice econômico proveniente do Ciclo da Borracha.

O Palácio Antônio Lemos, conhecido como “Palacete Azul” é a sede da atual Prefeitura Municipal de Belém. O projeto é de 1860, de autoria de José da Gama Abreu. Ao lado foi erguido o Palácio Lauro Sódré, antiga sede do governo do Estado. Construído entre 1676 e 1680, em taipa-de-pilão com dois pavimentos, o palácio abrigava os governadores em inspeção à Capitania. Era chamado de “casa de residência”. O Palácio – demolido em 1759 – foi reconstruído com projeto do arquiteto Antônio José Landi, no estilo clássico italiano.

Basílica

A Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré e o Mercado de São Brás integram outra parte importante do patrimônio histórico paraense. Era essa parte de Belém que saía a rota ferroviária que ligava Belém a Bragança, cujos traços arquitetônicos da antiga estrada de ferro seguem preservados nas 13 cidades cortadas pelos trilhos.

A Basílica de Nazaré é a única Basílica da Amazônia brasileira. Sua história está atrelada com o a descoberta da imagem de Nossa Senhora de Nazaré por Plácido às margens do igarapé Murucutu, área que atualmente corresponde aos fundos da Basílica.

Basílica Santuário de Nazaré (Foto: Alberto Bitar)

Inaugurado em 1911, período áureo do ciclo da borracha na Amazônia (Belle Époque), o Mercado de São Brás é considerado um marco da expansão de Belém. O local foi construído com a função ser um centro comercial responsável, junto ao Ver-o-Peso, pelo abastecimento da capital paraense. Sua construção foi iniciada no dia 1º de maio de 1910 e concluído em 21 de maio de 1911.

Criado pelo arquiteto e engenheiro italiano Filinto Santoro, o mercado possui sua estrutura construída em ferro e mescla elementos do art nouveau e neoclássico, com detalhes escultóricos também em ferro e azulejos decorativos. Antônio Lemos, intendente de Belém na época, cedera a Santoro o terreno para a construção do mercado.

Mercado de São Brás (Foto: Amarílis Marisa/Agência Belém).

Em 1988, na administração do prefeito Fernando Coutinho Jorge, o mercado passou por uma grande reforma, com mudanças significativas nos aspectos espaciais e de uso. A segunda reforma ocorreu entre 1998 e 1999, na gestão do então prefeito Edmilson Rodrigues, e incluiu a recuperação do telhado, impermeabilização de toda a cobertura e pintura. A última reforma foi concluída em dezembro do ano passado. O espaço foi totalmente revitalizado que agora une gastronomia, cultura e entretenimento.

Além da catedral metropolitana e da Basílica de Nazaré, destacam-se vários outros patrimônios históricos de cunho religioso na capital projetadas pelo arquiteto Antônio Landi, como o Convento e Igreja de Nossa Senhora das Mercês, que data da fixação dos padres mercedários no Pará, em 1640.

A primeira igreja (de taipa coberta de palha) e a segunda (de taipa-de-mão e de pilão) se conservaram por mais de 100 anos. No século XVIII, foi iniciada a construção do templo atual, em alvenaria de pedra, concluído em 1777. Projetado pelo arquiteto italiano Antônio José Landi, é uma das poucas igrejas brasileiras com fachada convexa e frontão de linhas onduladas. Em 1794, os mercedários foram expulsos da Província e as dependências do Convento passaram a abrigar a sede da Alfândega.

Foi intensamente utilizado durante a revolta da Cabanagem em 1835, tendo ali funcionado posteriormente, o Trem de Guerra e o Quartel de Milícia, além do Arsenal de Guerra, a Recebedoria Provincial, os Correios, o Corpo de Artilharia e o Batalhão de Caçadores. Abandonada durante muitos anos, durante o século XIX, muitas de suas obras foram danificadas ou roubadas. Após a restauração, em 1913, a Igreja foi reaberta.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário teve construção datada da segunda metade do século XVII. Inicialmente, uma pequena ermida, erguida pelo esforço dos escravos e pretos, em devoção a Nossa Senhora do Rosário. Em 1725 foi demolida e reconstruída no mesmo ano, com dimensões idênticas, a partir de projeto do arquiteto José Landi.

A Igreja de Santana (Igreja de Nossa Senhora de Santana) foi erguida em 1727. Em 1761, foi iniciada a construção da atual Igreja de Santana, também com projeto de Landi. Apresentando características neoclássicas e abóbada em ogiva, encimada por lanterna redonda coroada por cúpula e cruz, raridades nas igrejas brasileiras.

Sítio arqueológico administrado pela Embrapa e localizado no bairro do Curió Utinga, o Engenho do Murucutu foi construído no século XVIII, por João Manuel Rodrigues. Era considerado um dos melhores e mais bem equipados engenhos do Pará, produtor de açúcar e cachaça. A capela foi construída em 1711, pelos frades mercedários, e restaurada na segunda metade do século XVIII por Landi. Com o tempo, o prestígio e as tradições relacionadas ao “senhor de engenho” foi se perdendo e o Engenho Murucutu acabou abandonado. Atualmente, restam apenas indícios dos alicerces, pilares e paredes da casa grande, em um emaranhado de apuizeiros. Apenas a capela se mantém de pé.

Locais traduzem fundação e expansão da capital

O dia 12 de janeiro de 1616 foi o marco histórico de fundação de Belém com o surgimento do Forte do Castelo, e que marca o início da ocupação do território paraense pelos portugueses que se estende nos anos seguintes com a abertura de ruas saindo do forte. “Esse forte se chama Presépio em alusão à saída da esquadra do português Francisco Caldeira Castelo Branco no dia de Natal de São Luís e sua chegada aqui”, destaca Amilson.

A primeira rua construída a partir do forte foi a Rua do Norte, que hoje se chama Siqueira Mendes. “Esse foi o primeiro embrião urbano que Belém teve e depois foram abertas todas as outras ruas como se fosse um raio, todas em direção ao forte. E é nesse processo militar, chegada dos primeiros colonizadores que virão junto também as ordens religiosas, que darão um caráter importantíssimo para a ocupação de Belém”, cita Amilson.

No início do século XVII surge a primeira igreja matriz em homenagem a Nossa Senhora das Graças, padroeira de Belém. Outro marco importante para história da cidade é a construção do convento de Nossa Senhora das Mercês em 1640; além do Convento de Santo Antônio, um pouco mais afastado desse núcleo inicial e que pertenceria aos franciscanos e onde hoje funciona o Colégio Santo Antônio.

“E assim Belém vai sendo construída e tendo uma clara divisão nas primeiras décadas do século XVII: de um lado o centro político e religioso que hoje conhecemos por Cidade Velha; e de outro o convento de Santo Antônio, que vai dar origem ao bairro da Campina”, explica.

Ainda no século XVII chega a Belém a ordem dos Jesuítas, sendo colocados num lugar afastado desse núcleo inicial de Belém e posteriormente se instalando onde hoje é a igreja de Santo Alexandre.

A partir do século XVIII a arquitetura religiosa e palaciana é ampliada na cidade. “Um importante marco dessa arquitetura é o Palácio do Governo hoje chamado Palácio Lauro Sodré, construído na segunda metade do século XVIII pelo arquiteto Antônio Landi, no ano de 1772, a partir de uma reivindicação dos governadores do Grão-Pará e Maranhão que queriam um prédio de acordo com a sua importância”. Lembra Pinheiro.

Landi foi um arquiteto brilhante e foi contratado para executar uma série de obras em Belém. Além do Palácio do Governo, projetou a igreja de Santana e uma série de projetos religiosos que se tornaram marcos na arquitetura de Belém na segunda metade daquele século.

A partir de meados do século XIX começam reformas urbanas importantes em Belém sobretudo no pós-Cabanagem, que estourou no Pará entre os anos de 1835 e 1840, gerando conflito e destruição sem precedentes na estrutura material e predial dos edifícios de Belém devido a inúmeras batalhas. “A partir de meados do século XIX e meados do Século XX começa o processo de reconstrução de abertura de ruas maiores e avenidas, como o Boulevard Castilhos França entre outras”, conta o pesquisador.

Patrimônio Histórico nas cidades do Pará

O conjunto arquitetônico que forma o patrimônio histórico paraense se estende por diversas cidades do Estado. No Marajó, a Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá, o Museu do Marajó em Cachoeira do Arari e as ruínas dos Jesuítas em Salvaterra fazem parte desse acervo.

Em Óbidos, a memória é preservada pelo Complexo Militar e o Forte da Serra da Escama. Em Vigia de Nazaré, está a Igreja de Madre de Deus, também conhecida como Igreja de Pedra, construída por escravos. Fordlândia, distrito construído por Henry Ford no coração da Amazônia, é preservado no município de Aveiro. A Igreja de São Félix de Valois, em Marabá, também enriquece esse patrimônio.

Santarém, no Oeste do Estado, guarda casarões, igrejas e palacetes tão antigos quanto a própria cidade, fundada em 1661. Sua arquitetura remete aos traços de Bragança, onde a Igreja de São Benedito, o Liceu de Música, o Barracão da Marujada e o Instituto Santa Teresinha enriquecem o acervo.

Entre o sincretismo religioso, destaca-se a Pedra do Rei Sabá, em São João de Pirabas, o Templo Budista de Tomé-Açu e a Catedral de São João Batista, em Cametá.

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