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A projeção de agravamento das mudanças climáticas caso as emissões de gases de efeito estufa (GEE) não consigam ser reduzidas coloca a população mais jovem do planeta ainda mais em alerta. Isso porque, naturalmente, os jovens são os que deverão sofrer mais direta e intensamente as consequências do aquecimento global. Daí o papel fundamental que a juventude apresenta nas discussões climáticas e que levarão para a COP29, no Azerbaijão.

Ainda que os espaços de negociação formal sobre mudanças climáticas, como a própria Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima (UNFCCC), ainda sejam realizadas sem a participação efetiva e maciça da juventude, coletivos e organizações de jovens têm se mobilizado cada vez mais para fazer ecoar suas vozes.

Para além da atuação em suas próprias cidades de origem, um número crescente de jovens tem conseguido se fazer presente também nas conferências, como observadores. Independente do país de origem, o que esses jovens têm em comum são demandas e expectativas a respeito das decisões tomadas pelos negociadores durante a conferência.

Nascida a partir de uma iniciativa colaborativa de jovens mulheres, em sua maioria não brancas, da Região Metropolitana de Belém, a Organização Mandí atua com a missão de buscar melhorias para os índices de saneamento nos maiores municípios da Amazônia Legal, visando cidades mais adaptadas aos efeitos das mudanças climáticas.

A partir de todo esse trabalho desenvolvido desde 2022, naturalmente, a organização acompanha de perto as discussões ocorridas no contexto das conferências do clima e tem expectativas próprias para a edição deste ano. “Enquanto organização, temos expectativas de acompanhar e incidir nessas agendas sendo trabalhadas globalmente na COP com a missão de articular não somente a nível internacional, mas também local e nacional a partir disso, principalmente pensando em caminhos para COP 30 e nos compromissos a serem assumidos pelo governo federal com a NDC”, pontua a diretora administrativa da Mandí, Ligia da Paz.

“Enquanto sociedade civil, esperamos que seja uma COP que haja aumento do compromisso dos líderes políticos e tomadores de decisão para com as medidas emergenciais de adaptação climática, que perpassam pelo controle de perdas e danos, ações de mitigação, transição energética justa, descarbonização do mercado, segurança alimentar e, claro, direito à água e saneamento”.

Faltando apenas um ano da conferência que será realizada em Belém, Ligia destaca a importância da participação da juventude, sobretudo a amazônida, nos espaços de negociação das conferências do clima. O que se esperaria é que esse cenário já se demonstrasse efetivo na COP29, no Azerbaijão. “Esperamos que a juventude, especialmente a amazônida, seja colocada nos espaços não apenas como observadores, mas como participantes ativos com impacto real nas decisões”, aponta Ligia. “A forma da juventude ser ouvida nas negociações é por meio dos próprios negociadores. Então, adoraria que na COP29 esses diálogos fossem mais possíveis e mais encaminhativos, com menos disputa e mais soluções”.

Enquanto as posições ainda são representadas por negociadores, a organização também possui expectativas muito claras sobre o posicionamento que esperam do Brasil na COP29. “O Brasil tem a reputação de ser um país muito biodiverso e vasto cultural e socialmente. Essa reputação vem também com a responsabilidade de não apenas agir domesticamente, mas também de influenciar a agenda internacional”, consideram.

“O movimento climático, protagonizado hoje pela juventude- especialmente a amazônida- pede também um envolvimento nos compromissos para proteção dos nossos biomas e para a transição energética e adaptação climática justa. Esse envolvimento é que vai permitir que o país apresente soluções concretas e exemplares para outras nações, que influencie positivamente a ação climática global. Então, esperamos um posicionamento inclusivo do governo para com as juventudes, onde em vez de apenas ouvir suas demandas, ocorra a criação e fortalecimento de espaços legitimados onde os jovens participem na formulação de políticas climáticas e nas negociações internacionais”.

Lígia aponta, ainda, que para a Mandí, as pautas centrais de atuação são de saneamento e adaptação climática através de uma lente de justiça social. São essas as pautas que direcionam a atuação da organização, dialogando com as demais agendas de forma transversal. “Recentemente realizamos uma pesquisa para evidenciar a correlação entre as agendas de saneamento e adaptação climática com viés social, cultural, ambiental em 3 cidades amazônicas, sendo Belém (PA), Manaus (AM) e Macapá (AP). Essa pesquisa fornece insumos e informações para que a adaptação das cidades amazônicas, especialmente as urbanas, sejam pensadas a partir das territorialidades e potencialidades locais”, explica. “Vamos lançar essa pesquisa em breve e a ideia é que a própria COP29 seja um ponto de partida para essa incidência e fortalecimento dessas agendas na região”.

Em outra ação desenvolvida pela organização, Lígia destaca o trabalho para a construção de uma rede de meninas, de 16 a 24 anos, para fortalecer a presença de meninas e mulheres na construção de soluções nos territórios em uma ação do local ao global, a partir de uma formação centrada na didática sobre saneamento, clima e territórios. “Ter mais mulheres em defesa dos direitos à água, saneamento e adaptação climática também é uma prioridade”.

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