Equipes de pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveram um método inovador para identificação de áreas agrícolas mais vulneráveis à contaminação de água subterrânea, baseado na análise de dados geoespaciais. O método tem aplicação, principalmente, nas avaliações de risco ambiental de agrotóxicos solicitadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) para registro de novos produtos. Os resultados do estudo foram obtidos em um projeto cofinanciado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), publicados pela Embrapa no final de 2023 e anunciado nesta sexta-feira (15).
A aplicação de agrotóxicos pode gerar resíduos e o processo de lixiviação no solo resultar na contaminação da água subterrânea. Para identificar os cenários críticos, ou seja, as condições mais propícias à contaminação, foi utilizado um modelo que considera, entre outros fatores, o tipo de solo e sua umidade, a profundidade do lençol freático ou aquífero e o tempo que o agrotóxico levaria para chegar até eles.
Quanto maior esse tempo, mais ele fica exposto aos processo de degradação no solo e menores as chances de ocorrer contaminação. Os pesquisadores buscaram um modelo que não subestimasse os riscos. “Nossa preocupação, nessa estimativa, é a segurança”, diz o analista Rafael Mingoti, da Embrapa Territorial, unidade localizada em Campinas (SP) e um dos autores do trabalho.
Uma das vantagens do novo método é ser apropriado às condições brasileiras, com sua diversidade de clima e solos. Atualmente, as análises seguem procedimentos da Agência de Proteção Ambiental (EPA), baseados no cenário dos Estados Unidos. A publicação que está disponível desde dezembro traz uma aplicação do método no estado de São Paulo, para três culturas agrícolas mais representativas deste território: cana-de-açúcar, citros e soja. O trabalho aponta, por exemplo, que os cenários mais críticos para contaminação de águas subterrâneas estão em 1% da área de soja, 1,6% da área com cana-de-açúcar e 4,1% da área com citros.
O maior desafio da equipe, na avaliação de Mingoti, foi estimar a profundidade dos lençóis freáticos. “Tivemos que utilizar um modelo bem complexo para todo o estado”, disse ele. Outra etapa trabalhosa foi estimar o que se chama de umidade do solo na capacidade de campo, isto é, um solo que não está seco nem úmido demais. “Foram várias equações e vários bancos de dados para chegar nessa informação.”
Para esse trabalho, foi organizado um banco de dados georreferenciados em escala 1 para 750 mil, com as características físicas, químicas e hidráulicas dos solos no estado. Ela está disponível na GeoInfo (Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa).