Para cada espaço da cidade, um perfil de árvore adequado

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Luiz Flávio/ Diário do Pará – Belém possui uma cobertura verde que contabiliza algo em torno de 120 a 123 mil árvores segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). Desse total pelo menos 15 mil são mangueiras e parte delas, principalmente as do centro da cidade, são centenárias. Além das mangueiras outras espécies predominam na paisagem urbana da capital como oitizeiros, castanholas, acácias e fícus.

Seja em uma grande metrópole ou em municípios com população menor, a arborização urbana ocupa um lugar significativo no que se refere à saúde e ao bem-estar da população, além de ser uma aliada no combate às mudanças climáticas. No entanto a presença das árvores é muitas vezes subestimada ou vista apenas como um detalhe estético no planejamento urbano. O Brasil, que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta, apresenta desafios no que se refere à arborização urbana.

Warley Melo, engenheiro florestal da Semma, diz que o manejo da cobertura arbórea de Belém exige uma infraestrutura que atenda principalmente esse conjunto de mangueiras, pois são vegetais de grande porte, que chegam a 30 metros de altura em média “e que estão sujeitos a vários tipos de intervenções indevidas como podas não autorizadas, corte ou cimentação de raiz ou mesmo utilização da árvore para afixação de ganchos e placas, o que abre caminho para patógenos, colocando a árvore sob risco de queda”.

Segundo ele, Belém figura hoje entre as capitais com um dos menores índices de cobertura verde entre as capitais. “Apesar de esse dado do IBGE ser de 2010, é possível perceber bairros que não apresentam espaços para plantio, devido a ocupação desordenada, como é o caso da Terra Firme, Cremação, parte do Guamá e parte do Jurunas”, coloca.

A ausência de cobertura verde nesses locais permite o aparecimento de um fenômeno de ilhas de calor, que causa desconforto térmico. “Essa situação demonstra a importância de identificar áreas disponíveis para fazer plantio nesses bairros e principalmente educar a população para preservar essas mudas para que as mesmas se desenvolvam”, justifica o engenheiro.

Os pesquisadores Rafael Salomão e Nelson Rosa (in memoriam), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), lançaram o “Guia de Seleção de Árvores Ornamentais: Paisagismo Urbano para a Amazônia”, manual técnico-científico que propõe diretrizes para a escolha e manejo adequado de espécies em espaços urbanos.

O pesquisador Rafael Salomão, em entrevista ao site do MPEG, destaca que analisou a arborização na capital paraense qualitativa e quantitativamente, examinando, também, a legislação municipal sobre o tema. “Durante esse processo de análise, verificamos que é de 78 o número de espécies que foram usadas na arborização de Belém. Dessas, apenas 10 espécies correspondem a mais de 90% do total de árvores plantadas e apenas duas são originárias da Amazônia”, pontua o pesquisador

O guia data de 2013 e foi coordenado pela Prefeitura de Belém e Universidade Federal Rural da Amazônia, recomendando 85 espécies, das quais 46 são da Amazônia e 39 exóticas. “Considerando que grande parte das cidades do interior do Estado tende a seguir os projetos paisagísticos da capital, pode-se considerar que a composição e a densidade não se distanciam destes números”.

Rafael destaca ainda na entrevista, a matriz de seleção de espécies ornamentais para uso urbano, relacionando 151 espécies com uso atual e potencial no paisagismo urbano, das quais 89 são adequadas às vias urbanas e 54 às áreas verdes. “Entre estas, 32 foram consideradas como de extrema beleza, 49 como muito belas e 70 como ornamentais. Espécies com flores perfumadas somaram 26, e outras 15 proporcionam sombra abundante”.

Na Amazônia, onde altas temperaturas e umidade são constantes, a arborização urbana pode ser uma solução eficaz para atenuar o desconforto térmico, melhorar a qualidade do ar e promover o bem-estar das populações. Contudo, como apontado pelos autores, o planejamento adequado e o uso de espécies nativas são fundamentais para alcançar esses objetivos.

O guia apresenta uma matriz de seleção que analisa diversos atributos de espécies arbóreas, com destaque para características como altura da árvore adulta, forma da copa, floração, folhagem e valor cultural ou legal. Esses critérios ajudam gestores públicos, paisagistas e ambientalistas a tomar decisões informadas sobre quais árvores plantar em diferentes espaços urbanos.

Altura e flores são avaliadas pelo guia

O guia classifica as árvores em três categorias: pequenas (até 6 metros), médias (entre 6 e 12 metros) e grandes (acima de 12 metros), de acordo com suas características. Para áreas sob fiação elétrica, o recomendado são espécies de menor porte, enquanto árvores de grande porte são ideais para parques e praças. Essa avaliação previne conflitos com a infraestrutura urbana e reduz custos com manutenção, como podas frequentes.

A forma da copa das árvores também é fundamental por proporcionar sombra e conforto térmico, especialmente em regiões de altas temperaturas. O guia detalha tipos de copa, como as densas e largas, que oferecem excelente cobertura, e as ralas e estreitas, mais adequadas para espaços menores. Exemplos práticos incluem copas esféricas, como a do oitizeiro (Licania tomentosa), e copas em forma de guarda-chuva, como a do visgueiro (Parkia pendula).

As flores são um dos principais atrativos ornamentais das árvores. O manual, segundo o museu, valoriza espécies com florações vistosas, como o ipê amarelo (Handroanthus serratifolius) e o ipê roxo (Handroanthus impetiginosus), reconhecidos pela exuberância de suas cores. Apesar de muitas flores terem curta duração, seu impacto visual e ecológico, ao atrair polinizadores, as torna elementos essenciais no paisagismo urbano.

A obra informa ainda que muitas árvores têm importância cultural e legal, sendo símbolos de identidade local. O guia ressalta espécies como as mangueiras (Mangifera indica), indissociáveis da paisagem de Belém, conhecida como “Cidade das Mangueiras”. Além disso, algumas espécies, como o pau-brasil (Caesalpinia echinata) e a castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa), são protegidas por leis devido à sua relevância histórica, econômica e ambiental.

Vegetais reduzem as chamadas “ilhas de calor”

Muito mais que sombras e paisagens, as árvores contribuem para a redução da temperatura nas cidades frequentemente afetadas pelo chamado “efeito ilha de calor”, fenômeno causado, entre outros fatores, pelo excesso de concreto e asfalto que retêm calor.

Além disso, as árvores melhoram a qualidade do ar, pois absorvem gases poluentes, como o dióxido de carbono (CO₂), e liberam oxigênio. Também atuam como filtros naturais, capturando partículas em suspensão, como poeira e fuligem, que podem causar problemas respiratórios.

Para que os benefícios da presença de árvores nas cidades, ou seja, da arborização em

espaços urbanos sejam plenamente aproveitados, é necessário que ocorra um planejamento de forma criteriosa, desde a escolha das espécies e o plantio, considerando as mais adequadas para cada ambiente urbano.

A prefeitura de Belém, através da Semma vem tentando adequar o planejamento urbano da cidade e desde janeiro já realizou 342 podas e suprimiu 90 árvores em toda a Belém que estavam em iminente risco de queda.

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