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Cintia Magno DE BAKU, CAPITAL DO AZERBAIJÃO – Depois de duas semanas de passos apressados pelos corredores do Estádio Olímpico de Baku, os cerca de 50 mil participantes se despediram da 29ª Conferência do Clima da ONU na sexta-feira (22). Mais do que os desdobramentos sobre a conferência marcada por desafios para avançar nas negociações, o clima sentido nos bastidores é de expectativa pela próxima cúpula do clima, que será realizada em Belém, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.

Diante da missão de pensar o futuro das medidas de combate às mudanças climáticas, a expectativa pela conferência que será realizada em Belém cresce entre a sociedade civil. Esta será a primeira vez que uma conferência do clima da ONU será realizada em uma capital amazônica, bioma que é sempre destaque nas discussões climáticas pela própria importância que representa para a regulação do clima mundial.

Membro da organização da sociedade civil FASE – Solidariedade e Educação, Maureen Martins dos Santos acompanha as conferências do clima desde 2008 e não esconde a expectativa pela COP do Brasil.

“A expectativa é muito grande porque, primeiro, é uma conferência das partes no Brasil, num país que é tão importante para esses debates nas negociações climáticas. Durante vários períodos ao longo dessa convenção teve momentos que o Brasil realmente foi muito liderança nesse processo e, ao mesmo tempo, a gente está saindo de três conferências das partes no qual os países são extremamente conservadores e você, como sociedade civil, não consegue trazer para as ruas, não consegue fazer atividades do lado de fora”, considera.

“A gente espera que, efetivamente, a sociedade civil possa encontrar em Belém esse espaço de acolhimento e que esses temas que são importantes para a Amazônia, para os territórios, possam aparecer e ser protagonistas neste momento da conferência”.

Natural da Nigéria, Yusuf Dominic conta que durante a COP29 pode ter contato com representantes do governo brasileiro que destacaram as iniciativas do Brasil em relação a geração de energia por fontes renováveis e lembrou que este é um tema que ele espera ver tratado na COP30.

“Devemos continuar a ter várias formas de energia limpa e renovável, como turbinas eólicas e energia solar. É muito bonito que eu tenha me encontrado com alguém da delegação do governo do Brasil e ele estava me contando muitas coisas sobre como o Brasil vai implantar muita energia solar”.

COP30

Além da representatividade de se realizar uma conferência do clima em uma capital amazônica pela primeira vez, a COP30 deverá ser um marco também pelo momento histórico em que ela se encontra. A diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Maria Netto, destaca que esta será a primeira vez em dez anos que os líderes mundiais se reunirão para decidir o que está por vir.

“Belém é uma conferência muito diferente dessa conferência que a gente está [a COP29] porque Belém é uma conferência que está acontecendo 10 anos depois de Paris e ela vai ser a meta para os próximos 10 anos na Convenção”, explica.

“Ela não é qualquer conferência, ela é muito mais importante que essa e a conferência a gente teve em Dubai no ano passado, inclusive a de Glasgow ou a do Egito. Ela é tão importante como a de Paris porque ela vai ser a conferência onde a gente vai estar falando do futuro. Não é uma conferência só como essa para fechar acordos que a gente fez lá atrás, ver como é que a gente avançou e continuar avançando. É a conferência onde a gente vai ter que preparar o que vai ser os próximos 10 anos”. (A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade – iCS)

Conferência chega ao último dia sem definir financiamento

Depois de as negociações entrarem pela madrugada de quinta e seguirem ao longo de toda a sexta-feira (22), novos rascunhos dos textos da COP29 foram divulgados por volta de 15h, horário de Baku. Apesar disso, a conferência encerrou o seu último dia previsto sem uma definição em relação ao texto final.

No que se refere ao tema central da cúpula deste ano, o financiamento climático, o novo rascunho foi recebido com críticas pela sociedade civil. Isto porque, o novo texto preliminar propõe que os países desenvolvidos destinem 250 bilhões de dólares por ano até 2035 para auxiliar os países em desenvolvimento nas ações de combate às mudanças climáticas.

O que é defendido por especialistas e por representantes da sociedade civil é de que o valor da Nova Meta Global Coletiva Quantificada (NCQG) deveria escalar para os trilhões de dólares.

Em reação à divulgação dos novos textos, o Greenpeace Brasil considerou que o novo documento reduz a responsabilidade dos países desenvolvidos. “Ao estabelecer uma nova meta de 250 bilhões de dólares ao ano (para substituir a anterior de 100 bilhões), reduz a responsabilidade dos países desenvolvidos ao dizer apenas que eles devem `liderar’ tal financiamento”, ponderou a especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim.

“Além disso, o documento não deixa claro qual percentual desses 250 bilhões deve vir de doações ou de financiamento altamente concessional, o que novamente levanta preocupação sobre o endividamento dos países em desenvolvimento e a dificuldade de financiar a ação climática nesses países. Ao mencionar o 1.3 trilhão como meta total até 2035, o texto apresentado está esperando que a solução venha do setor privado, que sabemos não ser o caso”.

NEGOCIAÇÕES

Apesar do cenário de entrave nas negociações ser muito diferente do que o se gostaria de ter no último dia oficial de COP29, a Especialista em Estratégias Internacionais do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Cintya Feitosa, reforça que, infelizmente, a situação já era imaginada.

“É um tema muito complexo. A gente viu nas rodadas de negociação anteriores que ainda havia muitos contextos que ainda não estavam bem decididos entre os países. Em geral, as COPs não terminam nos dias que elas estão marcadas para terminar, mas para esse tema, com a quantidade de diferentes posições que existia até ontem (quinta-feira) não dá para saber se ela vai terminar no sábado, se ela se estende até domingo e, infelizmente, a gente não vê um texto muito forte em relação a financiamento climático”.

Novas posições e a possível definição do texto final da COP29 podem ser anunciadas nos próximos dias.

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