Pesquisa pioneira no Pará faz monitoramento de rios da Amazônia

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Por Aila Beatriz Inete

A Região Amazônica possui mais de 6,7 milhões 23de km². A área desta floresta que encanta e é desejo de vários países têm dimensões quase continentais. Desbravar esse bioma e tentar entender como ela funciona é objeto de estudo de muitos pesquisadores.

Aqui no Pará, a professora doutora Vania Neu coordena um grupo de pesquisa de monitoramento de rios amazônicos. O projeto é pioneiro na região. Esta é a primeira vez que pesquisadores brasileiros e paraenses, com recursos próprios, saem em expedição para estudar as águas amazônidas.

A pesquisa é da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), envolve cientistas de outras sete instituições e tem financiamento do Governo do Estado do Pará. A expedição percorre 10 municípios, em um trajeto de quase 900km, de Belém ao município de Breves, no Marajó, e entrando no rio Tocantins até o município de Baião.

De acordo com a professora Vânia, a ideia do trabalho surgiu pela percepção de falta de pesquisas sobre os rios da região. O projeto começou no último ano, com a primeira expedição. Agora, a segunda é iniciada nesta segunda-feira, 11 de setembro. Serão 18 dias nos rios para coletar dados.

“É o primeiro trabalho que está sendo feito nessa região, então a gente mede desde quando a água tá saindo, que não existe esses dados, até um estudo de quanto gases são invadidos do Rio para atmosfera. Esse é um primeiro trabalho exploratório para a gente entender como é que funciona essa região”, explicou a professora.

Grupo de pesquisa fez expedição de 18 dias em rios paraenses (Foto: Aquivo da pesquisa)

A pesquisadora afirmou que o Rio Pará é o quinto maior do mundo, mas não tem dados detalhados sobre. “Muita gente fala das alterações que estão em curso, mas daqui há 10 anos, como é que a gente vai saber se teve alteração se a gente não tem a medida?. Então, a gente tem que ter. O que a gente está medindo hoje já tem alteração, mas daqui a 10 anos a gente vai ver quanto está mais alterado”, ressaltou Vania Neu.

Resultados preliminares

A pesquisa ainda está nos primeiros estágios, de acordo com a professora. O trabalho prevê um total de cinco expedições, que devem ser concluídas em 2025, próximo da COP 30 (Conferência Mundial do Clima).

Cerca de 20% de toda a água doce que chega ao oceano vem da foz do rio Amazonas, o maior rio do mundo. Com isso, a pesquisa visa coletar dados para avaliar a contribuição do rio Pará na água que sai para o oceano.

O estudo também realizará medições de gases que causam o efeito estufa e contribuem com as mudanças climáticas, além da avaliação da qualidade da água e monitoramento de sedimentos presentes no rio e a quantificação de microplástico nas águas do Pará, incluindo os efeitos sobre o pescado (peixes e camarões).

Pesquisa coletou varias amostras para serem analisadas em laboratórios

Nos resultados preliminares, os dados mostraram que os rios possuem sistemas diferentes. O Tocantins, por exemplo, apresentou uma quantidade muito pequena de CO2, enquanto que o estreito de Breves foi o que mais registrou a presença do gás.

“O Tocantins tem uma emissão muito pequena de gás do efeito estufa, justamente por essa química da água. É uma água mais clara, tem muita alga, muita fotossíntese, muita produtividade primária. Então tem muito sequestro de CO2, para incorporar na biomassa”, explicou a professora.

Estreito de Breves

— Quando a gente vai olhar a água do Estreito de Breve, é aquela que vem do Amazonas. O Amazonas já tem muito mais CO2 na água, pela origem dessa água, esse material que está em decomposição, que vem descendo o rio.

Rio Acará, Guamá e Rio Pará

— O Acará e o Guamá têm se mostrado um meio-termo entre o Tocantins e essa água que vem do Amazonas. Quando a gente pega o Rio Pará, na região de ponta de pedras. Aí a gente já vê uma pequena influência do Oceano, né? Então nessa região a gente tem uma influência do mar. Já tem um processo de diluição tanto de gases quanto de nutrientes nessa porção.

O Rio Tocantins é menos poluído?

De acordo com a pesquisadora, não é possível afirmar no momento que o Rio Tocantins é menos poluído só por haver menos evasão de CO2. “Nem sempre tudo é poluído”, destaca.

Amostras coletadas nos rios (Fotos: Emerson Coe)

“O rio Tocantins nasce no cerrado, lá é mais seco, tem menos planta, biomassa, menos decomposição e tem menos CO2 gerado. Quando pega o Rio Solimões o Rio Madeira, que está em uma região onde chove muito e tem muita biomassa, decomposição, isso naturalmente vai para o rio, então não quer dizer que aquilo seja um impacto antrópico[ação do homem]”, detalhou.

A pesquisa ainda está nas primeiras coletas. Ao todo, a expectativa é que tenham cinco expedições para poder ter um resultado final. O grupo também quer identificar quais CO2 e resíduos são os chamados carbono negro, ou seja, o que é resultado de queimadas. 

“Estamos  trabalhando intensamente para ter o primeiro inventário dessa região. O que está saindo daqui? Como é que está funcionando? Porque muita gente fala das alterações que estão em curso, das alterações climáticas que já estão em curso, mas daqui há 10 anos, como vamos saber se teve alteração se não tem a medida? O que a gente está medindo hoje já tem alteração, mas daqui há 10 anos vamos ver quanto está mais alterado”, apontou Vania Neu

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