Projeto da UFRA ensina importância da preservação e replantio das florestas

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“Antes de ser uma árvore, precisa ser semente”. É assim que a professora Dênmora Araújo, docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) explica o papel fundamental dessas pequenas estruturas, que formam a base de todo o processo para se ter uma árvore de fato. “A semente é o órgão da planta responsável pela perpetuação da espécie na natureza. Todo o processo de recuperação, de restauração e de conservação parte das sementes. Elas são a pedra fundamental para a conservação e renovação da biodiversidade de plantas na Amazônia e de qualquer outro bioma”, diz.

É pensando na importância das sementes para manutenção da vida no planeta que a professora criou o projeto “Semeando na escola”, iniciativa que busca auxiliar no ensino de ciências e na conscientização ambiental de crianças e adolescentes de escolas públicas e privadas no estado do Pará. Se as sementes estão inseridas em vários aspectos da vida cotidiana, agora elas também estão nas escolas, onde estão sementinhas do ensino fundamental e médio.

A partir de exposições, conversas, pinturas e  jogos educativos, os alunos são estimulados a aprender sobre ecologia, tipos de sementes, dispersão e a importância da relação do solo com a germinação das sementes, para manter as árvores no ambiente.

Parte da equipe do projeto Semeando na Escola. (Foto: arquivo Labsem.)

“O Semeando na escola surgiu com o objetivo de fazer com que os estudantes internalizassem o papel das sementes não apenas na alimentação, mas também na questão ambiental. Normalmente as sementes são deixadas de lado em muitas disciplinas e nós mostramos que elas são essenciais na manutenção dos vegetais no planeta. No projeto, nós aproveitamos a curiosidade natural das crianças para ensinar conceitos de ecologia e ciência, e  inspirar os jovens a cultivar e desenvolver ações sustentáveis dentro de casa”, explica a professora Dênmora, que coordena o projeto com o apoio de outros docentes e alunos.

João Silva, universitário do quinto semestre do curso de Agronomia, é um dos bolsistas que costuma apresentar as sementes a partir de jogos, como o Jogo da velha, jogo da memória e Caminho das sementes, uma competição que pode ser feita em equipes e que os alunos aprendem sobre ecologia, tipos de fruto, tecnologia e produção de sementes e mudas.

Crianças são incentivadas a aprender sobre as sementes de forma lúdica. (Foto: arquivo Labsem.)

“São jogos que são próprios para cada idade, coisas que podem ser interativas, que eles consigam desenvolver, criar um contato. Esse é o nosso objetivo principal, criar esse laço das crianças com a natureza, com a Amazônia, que se sintam pertencentes ao ambiente da floresta. Às vezes eles nem percebem, mas eles já estão criando conexões com as sementes, com as mudas, com a floresta”, diz.

Ele diz que inicialmente os estudantes não demonstram interesse. Mas isso é só até o grupo começar a mostrar toda a diversidade de sementes do projeto e como elas agem na natureza. “Normalmente eles têm mais uma ideia de sementes de feijão, milho. Quando a gente mostra sementes com estruturas diferentes, formatos, cores, falamos da dispersão, eles ficam encantados. As crianças tendem a se apaixonar mais pelas sementes que são aladas, porque nós fazemos demonstração ao vivo para elas, jogamos para cima a semente voa, eles adoram. Os adolescentes já gostam mais das que possuem texturas, as que são espinhosas, as que tem um desenho bonito”, explica.

No projeto, crianças aprendem conceitos sobre ecologia e ciência. (Foto: arquivo Labsem.)

O próximo passo do projeto é a produção de jogos digitais, tendo como base as sementes. “Para que possamos alcançar ainda mais alunos, em locais que ainda não fomos visitar”, diz.

Labsem 

O “Semeando na escola” é uma das iniciativas desenvolvidas pela equipe do Laboratório de Sementes (Labsem), do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFRA. No local são desenvolvidas pesquisas sobre tecnologia e produção de sementes e mudas, assim como atividades de extensão. O grupo trabalha tanto com sementes florestais, quanto com agronômicas e medicinais. As sementes catalogadas também servem de base para a exposição em feiras e eventos que o grupo participa. No Labsem é possível conhecer sementes de cupuaçu, seringueira, sumaúma, castanhas, andiroba, jambu. Cada uma com sua funcionalidade, história e beleza.

No Laboratório de Sementes (Labsem) da Ufra são desenvolvidas pesquisas sobre tecnologia e produção de sementes e mudas, assim como atividades de extensão. (Foto: Vanessa Monteiro.)

A professora Dênmora Araújo explica que existem vários tipos de sementes e várias estratégias que a natureza encontra de dispersá-las. “A natureza é muito sábia, as plantas, por meio das sementes, têm estratégias para sobreviver no ambiente e perpetuar sua espécie”, diz.

As sementes da Sumaumeira, por exemplo, se dispersam como se fossem em um algodão, enquanto que as sementes do ipê são aladas, levadas pelo vento. “Já as sementes que chamamos de ‘carrapicho’ tem uma estrutura que gruda ao pelo dos animais, sendo assim levadas para longe da planta mãe. O objetivo é justamente dispersar esse material reprodutivo para uma outra área, garantindo que as sementes se espalhem para novos locais onde poderão germinar e crescer sem competir com a própria mãe”, diz.

Sementes de Sumaumeira são dispersas pela árvore como se fosse em algodão. É uma estratégia da árvore para perpetuar a espécie em outras áreas. (Foto: Vanessa Monteiro.)

E mesmo sementes de uma mesma árvore podem apresentar características diferentes. “Se nós somos diferentes enquanto seres humanos, as sementes também. Embora muitas vezes sejam provenientes da  mesma planta matriz, elas podem apresentar comportamento e qualidade diferentes, pois são as sementes, que garantem a variabilidade genética da espécie. As condições ambientais a que são submetidas também influenciam”, explica.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas são sentidas pelas plantas e sementes. Se uma planta estiver na fase de floração ou frutificação, e de repente ocorrer déficit hídrico e período de seca prolongado, a planta reage. “Ela começa a abortar flores e frutos. É uma questão de sobrevivência. É como se a planta pensasse: ‘Eu preciso canalizar a minha seiva para uma quantidade menor de flores ou frutos, garantindo minha descendência e perpetuação da espécie”. explica a professora.

Mudanças climáticas afetam árvores, que reagem na produção de frutos. (Foto: Vanessa Monteiro.)

O aumento da temperatura e a baixa disponibilidade de água no solo podem afetar significativamente a germinação e o vigor das sementes, comprometendo seu estabelecimento no ambiente. “Cada semente tem uma temperatura ideal para germinar. Imagina uma semente em que a temperatura máxima que tolera para germinar fosse de 35ºC. O que pode acontecer com essa semente, no processo de germinação, se ela estiver em um ambiente com temperatura de 40 a 45ºC? Será que irá germinar e consequentemente, sobreviver? Nós ainda não temos essas respostas”, diz.

Mais pesquisas relacionadas ao comportamento das sementes de espécies nativas em diferentes condições ambientais são fundamenteis, explica professora. (Foto: Vanessa Monteiro.)

A professora explica que são necessárias mais pesquisas relacionadas ao comportamento das sementes de espécies nativas em diferentes condições ambientais. E que as  mudanças climáticas ameaçam a sobrevivência das plantas no planeta, contribuindo com a perda da biodiversidade. “A semente é sem dúvida o órgão vital para a manutenção da vegetação, pois é o meio de perpetuação da espécie. É ela que vai garantir a continuidade das plantas no planeta”, finaliza.

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