Visão 2030 debate desafios entre economia e sustentabilidade na Amazônia

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Na última terça-feira (05), quando se comemorou o Dia da Amazônia, a Natura &Co América Latina reuniu ativistas, jornalistas e influenciadores de diversas áreas em São Paulo. Fui um dos três jornalistas da Amazônia (e do Brasil) convidados para participar de tal evento, que contou com uma ampla e diversa programação para pensar os rumos da economia sustentável no país e na América Latina.
A programação contou com Ângela Mendes (ativista socioambiental e filha de Chico Mendes); Nath Finanças (empresária e influenciadora, criadora de conteúdos focados em educação financeira); Aline Sousa (representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis); Ricardo Calderón (engenheiro de alimentos da Agrosolidária Florencia, da Colômbia). O evento também contou com John Elkington, conhecido como o criador do termo “tripé da sustentabilidade”, que deu origem ao ESG, que concedeu entrevista para o jornalista Eduardo Carvalho, jornalista e colunista de ECOA, do portal UOL. O evento está disponível no Youtube. Assista:

“Para América Latina, a nova versão da Visão 2030 propõe enfrentar de forma corajosa algumas das questões que mais impactam o Brasil e os países hispânicos nos quais operamos, como a perda da biodiversidade e o desmatamento, a violação dos direitos humanos – mas também temas globais, como a crise climática”, afirmou o presidente da Natura e CEO de Natura &Co América Latina, João Paulo Ferreira.
Em seu planejamento, a Natura visa contribuir com a conservação e regeneração de 3 milhões de hectares de floresta amazônica, alcançar pelo menos 95% de ingredientes renováveis ou de origem natural na fórmula de produtos e aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-CN) de 4 milhões de Consultoras de Beleza. O modelo de negócios, que privilegia sustentabilidade e valorização da equipe, mostra que é possível sim pensar em lucro, conservação e valorização caminhando juntos.
Ao longo das conversas e apresentações que ocorreram, foram debatidas inúmeras alternativas para a relação mais solidária e estratégica entre economia e sustentabilidade, bem como o destino de resíduos. Segundo Aline Sousa, que entrou para a história ao ser a primeira pessoa sem possuir cargo público e/ ou estar ligada a algum partido político a passar a faixa durante a cerimônia de posse presidencial, “é um processo complexo, acho que vai demorar décadas para as pessoas evoluírem como humanas, na área ambiental. É preciso ter mais respeito e entender o papel de cada um”, se referindo à reconstrução política do país e também à conservação da natureza.

Aline Sousa é catadora de materiais recicláveis, estudante de Direito e ativista social. Foto: Enderson Oliveira.

É justamente nesta relação entre humano e natureza que podem estar as chaves para grandes avanços, como é proposto pelo engenheiro de alimentos colombiano Ricardo Calderón. Em entrevista exclusiva , ele destacou o papel fundamental que se deve ter sobre conhecer a Amazônia para entendê-la e poder debatê-la.
“A Amazônia é um território muito amplo, no qual estamos inter-relacionados. É muito importante poder vivê-la, poder senti-la, ver sua realidade, ter a oportunidade de nos comunicarmos com suas comunidades, de poder se comunicar e estabelecer relações com as pessoas, de poder conhecer sua realidade, de viver e ver como transitam, como vivem, como se relacionam com seu território e quando fazemos isso potencializamos muito mais nossa vocação de defender a Amazônia.”

PARCERIAS DO PRESENTE MOVEM O FUTURO
Atento a esta interrelação citada por Calderón, o presidente da Natura e CEO de Natura &Co América Latina, João Paulo Ferreira, explicou que também está entre as metas estender o número de comunidades agroextrativistas parceiras de 41 para 45, aumentar em quatro vezes as compras de insumos da sociobiodiversidade amazônica e atuar em suas cadeias críticas de fornecimento de matérias primas para torná-las 100% livres de desmatamento e pela conversão da vegetação nativa.
Com a Visão 2030, a Natura &Co América Latina se compromete ainda a zerar as emissões líquidas de gases do efeito estufa (net zero) de sua operação em toda a região, meta compartilhada também pelas outras unidades de negócio da holding. Veja algumas das principais metas do grupo, que podem ajudar outras empresas a se (re)pensarem e estabelecerem suas metas:

1. Enfrentar a crise climática e proteger a biodiversidade
Uma das mudanças no primeiro pilar foi a proposta de uma nova redação, que fala em “proteger a biodiversidade”, além de “proteger a Amazônia”. A Amazônia manterá o seu protagonismo, dando continuidade à atuação consistente da marca Natura na região amazônica, iniciada há mais de duas décadas.
Com relação à transição climática, para contribuir com o objetivo já assumido pelo grupo em zerar as emissões líquidas de carbono até 2030, Natura &Co América Latina se compromete nesse período a se tornar net zero em suas instalações próprias (escopos 1 e 2 de emissões), além de reduzir 42% das emissões de gases de efeito estufa de toda cadeia de valor (escopo 3), com a priorização da aquisição de créditos em projetos na Amazônia, prioritariamente das comunidades agroextrativistas.
Em termos da proteção da biodiversidade, Natura &Co América Latina se compromete a atuar em suas cadeias críticas de fornecimento de matérias primas para torná-las 100% livres de desmatamento e de conversão da vegetação nativa. O plano é que, já em 2025, essa meta seja atingida (com verificação independente) nas compras diretas de palma, soja, papel e álcool.
Outra ambição correspondente ao pilar é a de mover esforços para que países cooperem entre si para estabelecer regras de repartição de benefícios harmonizadas, direcionadas principalmente às comunidades locais e tradicionais. Para tangibilizar sua jornada de enfrentamento ao desmatamento, Natura &Co América Latina pretende ainda engajar 20 milhões de pessoas por ano em ações ligadas à Causa Amazônia Viva.
Com o intuito de contribuir com a bioeconomia por meio da inovação, a companhia tem a meta de chegar a 55 bio-ingredientes amazônicos, tendo como ponto de partida 39 espécies em 2020. Além disso, estabeleceu o desafio de aumentar em quatro vezes as compras de insumos da sociobioeconomia da região e dobrar os recursos compartilhados com nossas comunidades.

2. Defender os direitos humanos e sermos mais humanos
No segundo pilar, Natura &Co América Latina mantém meta global já anunciada no passado, de garantir ao menos 30% de posições gerenciais ocupadas por pessoas de grupos sub-representados. Natura &Co América Latina assume o compromisso de ter 25% de pessoas negras em cargos gerenciais no Brasil a partir de 2025 – e 30% a partir de 2030. Entre o conjunto de metas neste pilar está ainda o de garantir salário digno ou acima dele a todos os colaboradores a partir de 2023. Zeramos o gap salarial não explicado na remuneração entre nossos colaboradores homens e mulheres na América Latina. No Brasil, também olhamos para a disparidade salarial sobre o recorte racial, que totalizou 0,15% em 2022.
Com relação às cadeias de suprimentos, o compromisso é garantir a rastreabilidade e/ou certificação total das cadeias críticas de palma, mica, papel, álcool, soja e algodão até 2025 e demais até 2030. Além de avançar na devida diligência em direitos humanos para cadeia de valor.

3. Abraçar a circularidade e a regeneração
Nesse pilar estão sendo mantidas para Natura &Co América Latina as metas de circularidade de embalagens até 2030: 50% (em peso) de todo o plástico usado nelas terá conteúdo reciclado, e 100% delas serão reutilizáveis, refiláveis, recicláveis ou compostáveis. Um novo compromisso relacionado a esse tema, anunciado agora, é o de assumir a responsabilidade de coletar e dar a correta destinação para os nossos resíduos de embalagens que não tiverem uma infraestrutura de reciclagem estabelecida. As metas seguem estimulando a priorização de fórmulas naturais com ingredientes de alta performance, mas que também sejam de origem renovável e sustentável.
O investimento em soluções regenerativas segue sendo parte do terceiro pilar do Compromisso com a Vida. Entre as metas adotadas agora está a de garantir que 100% das comunidades e de grupos de pequenos agricultores fornecedores de ingredientes-chave tenham abastecimento ético e práticas sustentáveis. Outro compromisso da operação na América Latina é assegurar que todo o volume de pelo menos duas das principais commodities do negócio também sejam produzidos respeitando os princípios de regeneração. Da mesma forma, Natura &Co América Latina ainda almeja ter 30% de matérias-primas fornecidas por agricultores que adotam tais práticas e que sejam certificados por uma organização independente.

Enderson Oliveira é jornalista, coordenador de conteúdo no DOL e doutor em Antropologia.

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