Em meio Ă s discussĂ”es sobre possĂveis alternativas que possibilitem avançar rumo Ă eliminação progressiva do uso de energia fĂłssil a nĂvel global, o hidrogĂȘnio verde Ă© visto como uma alternativa para a tĂŁo necessĂĄria transição energĂ©tica justamente por nĂŁo gerar gases de efeito estufa (GEE) nem durante o seu processo de produção e nem em decorrĂȘncia do seu consumo.
Diferente do chamado hidrogĂȘnio cinza, que Ă© produzido atravĂ©s da reforma do gĂĄs natural e da reforma de carvĂŁo, o hidrogĂȘnio verde Ă© produzido sem que haja emissĂŁo de CO2, que Ă© o principal contribuidor para o aquecimento global.
Isso porque o hidrogĂȘnio verde Ă© produzido atravĂ©s da eletrĂłlise, processo em que ocorre a passagem de uma corrente elĂ©trica pela ĂĄgua â oriunda de fontes renovĂĄveis como eĂłlica, solar e hidrĂĄulica -, fazendo com que as molĂ©culas da ĂĄgua (H2O) se separem e gerando gĂĄs hidrogĂȘnio (H2) e gĂĄs oxigĂȘnio (O2). Esse gĂĄs hidrogĂȘnio (H2) gerado sem que haja emissĂ”es de gases de efeito estufa (GEE) pode ser usado tanto como combustĂvel para o setor de transportes, quanto como matĂ©ria-prima para produtos em outros setores.
A CEO da Associação Brasileira da IndĂșstria do HidrogĂȘnio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, lembra que o hidrogĂȘnio Ă© a molĂ©cula que a gente tem em maior abundĂąncia na Terra e considera que o hidrogĂȘnio verde faz parte de um elenco de soluçÔes para descarbonização do planeta.
âA beleza do hidrogĂȘnio verde brasileiro Ă© a capacidade que ele tem de trazer para baixo o conteĂșdo de carbono de processos produtivos, o que a gente precisa para emitir menos gases de efeito estufa e, com isso, tentar estabilizar a temperatura da Terra, que Ă© o que todo mundo se comprometeu no Acordo de Parisâ, reforça.
âA gente estĂĄ vendo todos os efeitos das mudanças do clima, que passam a ser um problema do cidadĂŁo comum, com os problemas que a gente estĂĄ tendo no Rio Grande do Sul, com as quedas de linhas de transmissĂŁo e todo o processo de desabastecimento de energia elĂ©trica. E o hidrogĂȘnio verde tem a capacidade de substituir combustĂveis fĂłsseis ou carvĂŁo ou qualquer carburante ou combustĂvel que emita gases de efeito estufa, por um pedaço desse processo produtivo que nĂŁo emite nenhum gĂĄs de efeito estufaâ.
Dentro desta perspectiva, Fernanda considera que o Brasil tem um enorme potencial para desenvolver essa nova indĂșstria e reduzir as emissĂ”es de carbono do paĂs.
âO Brasil tem muito potencial para atender o mercado internacional, mas o mais importante Ă© que a gente tem escala para atender o nosso prĂłprio mercado. Se vocĂȘ imaginar que a economia do SĂ©culo 21 Ă© uma economia verde, que existe uma nova ordem econĂŽmica mundial verde se aproximando e que a gente precisa fazer parte disso, vocĂȘ nĂŁo tem como nĂŁo participar. A Europa vai começar a taxar o aço que tem alto conteĂșdo de carbono, por exemplo. EntĂŁo, a gente vai ter que se adequar a essas novas regras desse novo mercadoâ, avalia.
âO hidrogĂȘnio verde pode colaborar para o mercado interno na produção de aço, na produção do agronegĂłcio, na indĂșstria de fertilizantes, para a indĂșstria quĂmica, para a indĂșstria alimentĂcia, para a indĂșstria de cimento. EntĂŁo, vocĂȘ tem uma sĂ©rie de indĂșstrias que podem se beneficiar desta redução da pegada de carbonoâ.
PROJETO
E para que esse cenĂĄrio se torne mais viĂĄvel, a CEO da ABIHV aponta que a indĂșstria vem se estruturando para isso. Fernanda Delgado lembra que na Ășltima quarta-feira (12) foi aprovado pela ComissĂŁo Especial do HidrogĂȘnio Verde da CĂąmara dos Deputados o Projeto de Lei 2.308/2023 que estabelece o marco regulatĂłrio para a produção de hidrogĂȘnio de baixa emissĂŁo de carbono, alĂ©m de prever incentivos fiscais e financeiros para o setor. Agora, a proposta segue para a anĂĄlise do PlenĂĄrio do Senado.
âEstĂĄ tudo caminhando. Existe uma oitiva muito grande do Governo em relação Ă indĂșstria para conformar esse marco legal, depois vem toda a discussĂŁo regulatĂłria de quem sĂŁo as agĂȘncias que vĂŁo regular essa indĂșstria, as empresas vĂŁo tomar suas decisĂ”es finais em investimentos a partir da garantia desses incentivos que estĂŁo previstos no PL 2.308 para que a gente tenha o inĂcio da implementação das primeiras plantasâ, projeta.
âĂ uma indĂșstria nova, com uma cadeia industrial densa, sofisticada, complexa, de alto valor agregado. SĂŁo muitos bilhĂ”es de investimentos para serem trazidos para o Brasil por vĂĄrias empresas, vĂĄrias multinacionais. A ABIHV estima um impacto direto, indireto e induzido de R$7 trilhĂ”es no PIB brasileiro atĂ© 2050, isso significa arrecadação, empregos, renda, investimentos. EntĂŁo, estamos muito esperançosos que seja uma solução de descarbonização, uma solução de neoindustrialização para o paĂs e uma solução muito boa para a sociedade tambĂ©mâ.