Diário do Pará – Pesquisas científicas são extremamente importantes para fundamentar as discussões sobre as mudanças climáticas e para embasar a tomada de decisões. É isso o que faz a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), ao lançar nota técnica, apontando a redução de quase 30% nas emissões de gases de efeito estufa (GEE), nas duas últimas décadas no Pará.
Na prática, os dados da Fapespa são o diagnóstico do governo do Estado sobre as emissões e capturas de gases de efeito estufa. Publicado no dia 26 de março, é um estudo fundamental para qualificar os debates sobre mudança do clima, conservação da biodiversidade, crescimento econômico, e transição justa para uma economia de baixo carbono. Logo, os dados vão subsidiar a tomada de decisão não apenas do governo, mas também de todos os stakeholders, ou seja, do setor privado, instituições financeiras, ONGs, povos indígenas, comunidades tradicionais etc.
“É importante destacar que a redução das emissões de CO2 (principal gás de efeito estufa) se apresenta como um resultado direto de iniciativas robustas e intersetoriais como o Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA), lançado em 2020, que articula ações de comando e controle com incentivos econômicos, e do Plano Estadual de Bioeconomia do Pará (PlanBio), que promove o uso sustentável da biodiversidade amazônica como base de uma nova economia inclusiva e de baixo carbono”, destaca o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.
Observatório do Clima
Para chegar aos dados sobre sustentabilidade, no Pará, a Fapespa desenvolveu seu estudo com base no Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma das maiores bases deste segmento no mundo, e é uma iniciativa do Observatório do Clima (rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira formada com o objetivo de discutir o problema do aquecimento global no
contexto brasileiro).
Sumidouros de carbono são lugares, atividades e processos em que a quantidade de CO2 absorvido e capturado é maior do que a emissão. O diretor da Fapespa, Márcio Ponte, assinala, no entanto, que “a destruição da floresta tem comprometido sua capacidade de sequestrar carbono e, em algumas áreas, ela já se tornou emissora líquida de GEE”, disse ele.
“O Pará, por sua vasta extensão territorial e presença significativa da floresta amazônica, ocupa uma posição central, com o desafio de equilibrar crescimento econômico, justiça social e proteção ambiental. Nós lançamos a nota técnica como ferramenta de auxílio na busca por soluções que possam reduzir impactos ambientais negativos e fortalecer iniciativas de conservação”, explica.
Capturas
Na avaliação das capturas de CO2e, que são os quantitativos de remoção desse gás da atmosfera, o Pará vem apresentando uma grande capacidade de captura, mantendo níveis acima de 119 milhões de toneladas de CO2e retiradas da atmosfera desde 2013. A captura aumentou 136%, passando de 71 milhões de toneladas de CO2e em 2000 para 167,5 milhões de toneladas em 2023. Esse crescimento foi impulsionado pelo aumento da captura da floresta primária (+148,6%) e da floresta secundária (+125,4%), evidenciando a importância dos ecossistemas florestais para a compensação das emissões.
Dentre as atividades econômicas responsáveis pelo aumento da captura de CO2 no Pará, entre 2000 e 2023, destaca-se a “vegetação nativa” como o principal fator de crescimento no sequestro de CO2 e da atmosfera, com aumento de 135,3% no período. Esse avanço consolidou a vegetação nativa como o maior sumidouro de carbono, representando 99,7% da remoção total de gás carbônico da atmosfera.
MUNICÍPIOS
A análise dos principais municípios com emissões brutas de CO2 no Pará entre 2000 e 2023 revela um cenário de redução significativa em algumas localidades. Marabá foi o destaque na redução de emissões, com queda de 60%, o que fez com que o município passasse da segunda para a sexta posição no ranking de emissores, agora respondendo por 2,7% das emissões totais do Pará. Santa Maria das Barreiras também apresentou uma queda expressiva de 44,7%, saindo da terceira para a nona posição, com 2,3% de participação estadual. Já São Félix do Xingu, apesar de ter reduzido suas emissões em 14,9%, continuou sendo o maior emissor de CO2e, com 8,1% das emissões totais.
Na captura, um dos principais destaques é o município de Altamira, que aumentou a remoção de gases em 160,4%, mantendo-se como o maior receptor de CO2e, com 15,1% de participação. Esse crescimento pode estar relacionado às iniciativas ambientais e práticas sustentáveis que aumentaram a capacidade de remoção de gases na região, destacando Altamira como um dos principais contribuintes positivos para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa no Pará.