Pesquisadores desenvolvem método para acelerar reflorestamento

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Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) descobriram um método capaz de acelerar o processo de reflorestamento em até 20 anos. Em um estudo iniciado em 2022, a equipe de cientistas desenvolveu um projeto que utiliza técnicas de melhoramento genético e estrutural das plantas com a aplicação de hormônios, acelerando o crescimento e antecipando a floração e frutificação.

Os resultados já revelam crescimento acelerado de árvores nativas da floresta amazônica. O trabalho é focado em espécies de crescimento lento, como a “golosa”, cujo florescimento demora 25 anos, porém, com o resultado da técnica inovadora, os primeiros frutos, segundo os cientistas, surgirão entre três e quatro anos após o plantio da árvore.

Além da golosa, os resultados mais significativos foram notados também na espécie camu-camu, que pode chegar a 8 metros em 20 anos, mas com a nova metodologia, esse prazo pode ser reduzido para 10 anos.

Além da pesquisa revolucionar a restauração florestal de áreas degradadas e mitigar as mudanças climáticas, pode contribuir para promover renda para a população local, visto que muitos frutos da região têm sabores exóticos e suas polpas despertam interesses gastronômicos, como é o caso do cajá, fruto da cajazeira, que, no experimento, apresentou crescimento em diâmetro acelerado em 30%.

A técnica usada consiste em implantar parte de uma espécie viva em outra planta, e a aplicação de hormônios, acelerando o crescimento e antecipando a floração e frutificação.

A pesquisa, que teve início em outubro de 2022, e está em fase final de conclusão, é um projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Além da UFPA, também participam cientistas da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, da Universidade Federal de Viçosa, da Universidade Federal Rural da Amazônia e do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará.

RESULTADOS

“Os resultados apontam para uma revolução nas técnicas usadas até o momento para a restauração de florestas. O sucesso do projeto pode ter benefícios significativos para o futuro da restauração florestal na Amazônia e poderá ser aplicado em outras regiões, ajudando a recuperar áreas degradadas e a reduzir o desmatamento. O projeto também pode auxiliar a biodiversidade da Amazônia e gerar renda e emprego para quem vive na região”, explica o professor da UFPA, Emil Hernández, responsável por conduzir os 20 pesquisadores envolvidos no trabalho.

Belém, Pará, Brasil. Cidade. Universidade Federal do Pará (UFPA), localizada na Rua Augusto Corrêa, 01 – Bairro: Guamá. 18/05/2023. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Todas as espécies estudadas são nativas da floresta amazônica, como o jatobá, cajá ou taperebá, golosa, muiracatiara, ipê, camu-camu, orelha de macaco, mogno, cupuaçu, jenipapo, amarelão, ucuúba, seringueira e a andiroba. São desafiadoras para o reflorestamento devido ao crescimento lento e à carência de informações sobre a biologia das espécies.

“O projeto vai proporcionar uma redução de tempo da geração de plantas nativas na região em cerca de 20 anos e traz um benefício, não só acadêmico, mas para toda a sociedade. Isso é espetacular para o meio ambiente. O que essa pesquisa tem de mais peculiar é o desenvolvimento da região. E é muito importante para a companhia deixar esse legado”, avalia Roberto Silva, gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia e um dos líderes do projeto.

PLANTAS

Os pesquisadores explicam que algumas plantas também precisam da técnica de sombreamento numa primeira etapa para agilizar o crescimento. É o caso do cajá, do jenipapo, da pata de vaca e da muiracatiara. De acordo com os cientistas, esse tipo de proteção tem ajudado a reduzir a incidência de luz solar direta, evitando estresse nas mudas.

“O processo de crescimento acelerado da golosa acaba sendo destaque porque pode ajudar no sombreamento natural, já que essa espécie chega a 30 metros de altura. Além de ser uma ótima candidata para utilização na recomposição de passivo ambiental e no enriquecimento de matas ciliares”, revelam os responsáveis pelo trabalho.

No que se refere à aplicação de nutrientes e hormônios de crescimento, os melhores resultados foram obtidos no camu-camu, onde o crescimento em altura foi acelerado em até 50%. Uma árvore de camu-camu pode chegar a oito metros em 20 anos. Os pesquisadores concluíram que a troca de substrato na fase inicial do experimento também foi muito importante para o crescimento acelerado das árvores.

Desenvolvido pela Norte Energia, o Projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação foi intitulado “Novas tecnologias para acelerar o crescimento de plântulas e plantios estratégicos para a restauração no Trecho de Vazão Reduzida da Volta Grande do XINGU, Pará”, e tem como principal objetivo desenvolver um conjunto de ações integradas que otimizem os projetos de reflorestamento da Volta Grande do Xingu.

Estudo

Estudo divulgado pela revista Nature Climate Change, especializada na divulgação de pesquisas sobre os impactos do clima global, comparou o custo e os benefícios climáticos de plantar uma espécie de árvore em uma área ou permitir a regeneração natural da floresta, duas abordagens comuns de reflorestamento ao longo de um período de 30 anos.

O estudo analisou a situação em 138 países, entre eles o Brasil, onde a plantação de novas florestas mostrou ser a melhor opção, tanto no tempo para apresentar resultados quanto na questão econômica. Segundo o estudo, diversos países se comprometeram a plantar bilhões de árvores para combater as mudanças climáticas. “Há lugares onde faz sentido plantar árvores e há lugares onde faz sentido regenerar florestas naturalmente”, disse Jacob Bukoski, um dos autores do estudo. “Se você quer sequestrar carbono a menor custo, alguma combinação de regeneração natural e plantações faz muito sentido”, disse o pesquisador da Universidade Estadual do Oregon, nos Estados Unidos.

Segundo Bukoski, a restauração de florestas tem um potencial enorme para ajudar a limitar o aumento das temperaturas, pois as árvores absorvem as emissões de dióxido de carbono que retêm o calor da atmosfera.

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