A presença de microplásticos no corpo humano já foi relatada por cientistas em algumas partes do mundo, já tendo sido encontrados em órgãos como pulmão, coração e até mesmo no sangue. Mas, em um cenário em que a ciência ainda busca entender mais sobre os efeitos que a presença dessas partículas pode causar à saúde do homem, é necessário compreender o que são exatamente estes microplásticos e, sobretudo, como é possível reduzir a sua presença no planeta.
O professor da Faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (ITEC/UFPA), Lucas Pinto Bernar, explica que são considerados microplásticos qualquer tipo de plástico menor do que 5 mm de diâmetro.
Porém, existem duas classificações para eles. Os microplásticos primários são fragmentos de plásticos que já possuem tamanho menor do que 5mm antes de serem despejados no meio ambiente, o que pode incluir fibras de roupas, pérolas, glitter e pellets de plástico.
“Eles são utilizados também em cosméticos e produtos para limpeza de pele como esfoliantes que tradicionalmente utilizavam produtos naturais como cascas de amêndoas moídas, aveia e pedra-pomes”, exemplifica.
“Microplásticos primários também são produzidos em limpeza por jateamento com ar. Este processo envolve o jateamento com microplásticos de acrílico, melamina ou poliéster para limpeza de maquinário, removendo sujeira, ferrugem e tinta. O desgaste desse material contamina o ar com microplásticos e metais removidos durante o processo de jateamento”.
Já os plásticos secundários são provenientes da degradação de resíduo plástico no meio ambiente devido a processos naturais de erosão. Nesse sentido, os microplásticos secundários se formam a partir da degradação mecânica de resíduos plásticos maiores depositados na natureza, seja na terra ou no mar.
“Com o tempo, esse resíduo sofre degradação mecânica através do contato contínuo com o meio ambiente, seja na forma de seres vivos (fauna e flora) ou do ambiente propriamente dito (erosão por chuvas, rios, mares e etc). Também ocorre degradação química através de foto-oxidação, causada pela exposição ao sol”.
POLUIÇÃO
Lucas Bernar explica, ainda, que boa parte dos microplásticos é oriunda de tecidos, pneus e poeira da cidade, contabilizando mais de 80% de todo o microplástico no meio ambiente. Já nos oceanos, as tintas são apontadas como a maior fonte de poluição por microplásticos.
“Como se trata de tema relativamente novo, muitos processos não consideram a remoção de microplásticos, por exemplo, como as estações de tratamento de esgoto sanitário que recebem o efluente de máquinas de lavar, contendo microplásticos em sua composição da lavagem das roupas. Devido a isto, os sistemas lançam os efluentes tratados ainda contendo microplásticos nos corpos aquáticos”, explica.
RISCO
Independentemente da classificação do microplástico que vai parar na natureza, as consequências ocasionadas estão relacionadas ao nível elevado de permanência deles no ambiente, sobretudo os ambientes aquáticos. Com isso, naturalmente, se observa uma poluição do meio ambiente e um risco ainda maior de contato dos seres humanos com esse microplástico descartado.
“Devido ao processo de degradação lenta do plástico (levando de centenas a milhares de anos), microplásticos exibem uma alta taxa de probabilidade de ingestão, incorporação e acúmulo em tecidos de organismos vivos, principalmente aqueles no topo de cadeias alimentares, como o acúmulo de mercúrio. Em ambientes terrestres, foi demonstrado que reduzem a viabilidade de ecossistemas no solo e diminuem o peso de minhocas”, aponta o professor.
“Porém, muitos efeitos dos microplásticos ainda são incertos devido a ser uma área relativamente nova de pesquisa e complexidade de avaliação de ecossistemas. Pelo fato de que a maioria dos plásticos são inertes, os danos em sistemas biológicos podem não ser muito claros no início. Por exemplo, mariscos, que se alimentam através da filtração da água, são afetados pois o acúmulo de microplásticos em seus sistemas reduz a taxa de filtração de água, gerando um efeito cascata que culmina em neurotoxicidade”.
É possível reduzir fontes de contaminação
Diante de um risco que ainda não pôde ser completamente dimensionado, o ideal seria reduzir o consumo deste tipo de plástico, ainda que alguma contaminação seja inevitável.
“Os plásticos são materiais úteis para a sociedade e de baixo custo e provavelmente ainda encontrarão muitas utilizações para os seres humanos. Entretanto, é possível reduzir ou talvez até eliminar muitas fontes de contaminação do meio ambiente através da adaptação de processos, uma vez que o conhecimento a respeito do tema e seus problemas é difundido cada vez mais”, acredita Lucas Pinto Bernar.
“Por exemplo, estima-se que a contaminação da água engarrafada com microplásticos é proveniente do próprio processo de fabricação e engarrafamento da água. Identificar e remover a fonte de contaminação do processo pode ser uma solução viável”.
O professor reforça que alternativas já existentes têm se demonstrado eficazes para isso. É o caso, por exemplo, de estratégias de reciclagem e processos de remoção de resíduos plásticos do meio ambiente.
Por Cintia Magno/Diário do Pará