O Instituto Clima e Sociedade (iCS) promoveu, no último dia 27 de agosto de 2025, o evento “O papel da Agricultura Tropical Regenerativa na Transformação da Agricultura e dos Sistemas Alimentares” no Rio de Janeiro, dentro da programação da Rio Climate Action Week.
A iniciativa abordou a agricultura regenerativa como ferramenta para a sustentabilidade, com foco na redução de emissões, restauração de áreas degradadas e geração de empregos, em alinhamento com os objetivos delineados pela presidência brasileira da COP30.
O encontro é de natureza independente, visando mobilizar a ação climática em apoio às propostas brasileiras na COP30. O evento se insere num contexto de grande atenção à crise climática, com a Conferência do Clima prevista para Belém em novembro, o que aumenta a importância de discutir soluções como a agricultura regenerativa para os sistemas alimentares e para a mitigação de gases do efeito estufa.
Por iniciativa do iCS, foram realizados debates de alto nível durante a Rio Climate Action Week. Destaque para “Esse Tal do Efeito Estufa”, que trouxe especialistas e o multiartista Criolo para uma discussão sobre mudanças climáticas.
Ao longo da semana, o iCS realizou e participou de dezenas de encontros na capital do Rio de Janeiro, sempre focados nos preparativos para a COP30. Dentro da programação da Rio Climate Action Week (RCAW), grandes nomes da ciência, cultura e juventude foram atraídos para um debate franco e inspirador sobre os desafios da crise climática.
No evento “Esse Tal do Efeito Estufa”, realizado no dia 26 de agosto, o multiartista Criolo; a Campeã da Juventude COP30, Marcele Oliveira; e os cientistas climáticos Thelma Krug (INPE), Paulo Saldiva (USP) e Eduardo Assad (FGV) trouxeram suas visões e experiências sobre os impactos das mudanças climáticas em diferentes áreas, como saúde, transporte e moradia.
Agenda climática em pauta
Além do “Esse Tal de Efeito Estufa”, o iCS teve participação ativa na programação da Rio Climate Action Week, organizando ou participando de debates sobre temas centrais da agenda climática, como restauração ecológica, agricultura tropical regenerativa, gênero e clima, financiamento climático, mitigação, adaptação e construção de resiliência.
Além disso, a equipe do instituto participou de importantes momentos, como a conferência internacional de abertura da semana, que revisitou o legado da Cúpula da Terra de 1992 e abordou os caminhos que precisam ser trilhados para que o Brasil alcance o sucesso na COP30.
Neste evento, Maria Netto, diretora-executiva do iCS, participou da mesa de debates intitulada “O legado da Cúpula da Terra do Rio: renovação institucional para uma nova era”, que teve também com a presença de Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível da COP30; Jeb Brugmann, fundador do Iclei – Governos Locais pela Sustentabilidade; Lilly Clark, co-fundadora da Rio Ethical Fashion; e Malini Mehra, CEO da Globe Legislators. A jornalista Leila Sterenberg foi responsável pela mediação do evento.
“Cada vez mais o clima não pode ser tratado apenas como um problema, ele precisa ser considerado parte integrante da nossa forma de viver. Mas isso exige repensar completamente como estávamos tratando a questão, porque significa integrá-la ao planejamento e à forma como fazemos investimento”, disse Maria Netto em sua fala.
No dia seguinte, 27 de agosto, o iCS organizou o debate “Papel da Agricultura Tropical Regenerativa na Transformação da Agricultura e dos Sistemas Alimentares”. Coordenado pelo ex-ministro da Agricultura e atual Envoy de Agricultura para a COP30, Roberto Rodrigues, o painel reuniu diferentes atores da cadeia da restauração – tanto ecológica quanto produtiva – para discutir gargalos e soluções para endereçá-los coletivamente, a fim de contribuir para o escalonamento da restauração no país e para o alcance dos compromissos brasileiros na UNFCCC.
Papel-chave do Brasil
Como um dos líderes globais em produção agropecuária, o Brasil tem papel-chave na segurança alimentar mundial. O país tem um horizonte promissor para a ampliação de sua competitividade global no setor, mas ainda precisa aprofundar suas ações de integração entre produção agropecuária, conservação da vegetação nativa e incentivo a atividades que valorizam os produtos da sociobiodiversidade e os serviços ecossistêmicos, em todos os biomas.
É necessário apoiar a transição dos setores de uso da terra e agropecuária para sistemas de baixo carbono e resilientes, promovendo práticas regenerativas, restauração florestal e bioeconomia.
Segundo estudos do iCS, as mudanças no uso da terra representam a maior parte das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Já o setor agropecuário responde por um quarto das emissões totais do país.
O iCS apoia a transição para sistemas alimentares que promovam a inclusão social, a segurança alimentar e nutricional, a rastreabilidade, assim como a adaptação e a redução das emissões de gases de efeito estufa.
O foco é na promoção da restauração de ecossistemas e na conservação da floresta em pé, com incentivos que resultem na geração de negócios de restauração e de bioeconomia e que permitam, além da captura de carbono, o desenvolvimento mais sustentável e competitivo regional, gerando emprego, renda e qualidade de vida para populações locais.
Produtos da sociobiodiversidade: fomento ao manejo e aproveitamento econômico de produtos sustentáveis; arranjos comerciais regionais e extensionismo; autonomia produtiva de agricultores familiares, povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais; apoio à economia da floresta em pé, políticas públicas, incentivos fiscais e conhecimento;
Restauração da vegetação nativa: articulação em prol de fluxos de capital para a restauração; impulso aos elos da cadeia de valor da restauração e a mercados para seus produtos e serviços; promoção de políticas públicas e marcos regulatórios (Planaveg, Código Florestal, Concessões Públicas, entre outros) para a restauração em escala e a ampliação da regeneração de florestas secundárias.
Eixos do Agro e sistemas alimentares
Esta frente promove a transição para sistemas agroalimentares mais regenerativos, inclusivos e resilientes, a fim de posicionar o país como referência global e fortalecer medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Além disso, atua para promover o acesso a dietas saudáveis e sustentáveis, e conscientizar consumidores e opinião pública.
Financiamento Verde: as metas são incentivar práticas regenerativas por meio do Plano Safra; estabelecer uma taxonomia sustentável para orientar a concessão de crédito, investimentos privados e o direcionamento de recursos a práticas regenerativas; apoiar o engajamento de investidores internacionais (públicos e privados) em boas práticas agropecuárias no Brasil; no âmbito do Pronaf, atuar pelo acesso ao crédito a pequenos agricultores que adotam técnicas sustentáveis;
Pecuária bovina: mapeamento de pastagens degradadas; produção de subsídios técnicos para políticas como o Programa Nacional de Conversão e Recuperação de Pastagens Degradadas (PNCPD); implementação de sistemas de rastreabilidade, com monitoramento socioambiental e inclusão dos pequenos produtores da Amazônia;
Alimentação: construção do Marco de Alimentação e Clima, para integrar medidas de segurança alimentar às metas climáticas; fortalecer a agricultura familiar e as cadeias da sociobiodiversidade; organizar e capacitar cooperativas e associações; promover uma ampla agenda na COP 30 de alimentação saudável e sustentável e promover a gastrodiplomacia;
Liderança: fortalecer o papel da agropecuária brasileira como líder global na transição para sistemas sustentáveis e regenerativos; promover o diálogo, furando bolhas e evitando polarizações; avançar no que o país tem potencial de liderança, como biocombustíveis, fertilizantes verdes, bioinsumos e comércio de créditos de carbono da agropecuária.