Uma empresa suíça de medicamentos e cosméticos à base de ingredientes naturais, tem consolidado sua presença no mercado brasileiro. Em entrevista ao Estadão, a CEO da empresa no Brasil, Maria Claudia Villaboim Pontes, afirma que essa filosofia, embora limite o ritmo de crescimento, está no centro da cultura organizacional, que dobrou de tamanho no país nos últimos cinco anos.
Fundada na Suíça em 1921 e presente no Brasil desde 1959, a empresa opera com uma lógica diferente de outras marcas da indústria cosmética e farmacêutica: o crescimento precisa respeitar a capacidade de produção dos seus jardins biodinâmicos — são seis no mundo, incluindo um em São Roque (SP), onde são cultivadas cerca de 40 espécies vegetais.
“A natureza não é uma máquina. Respeitar seu ritmo é uma exigência da nossa forma de produzir”, afirmou Pontes durante a entrevista.
Cosméticos e medicamentos: dois pilares com a mesma filosofia
Baseada na antroposofia, doutrina desenvolvida pelo filósofo Rudolf Steiner, a empresária explica que a marca enxerga os seres humanos como parte da natureza e não separados dela. Por isso, trabalha com ingredientes naturais, orgânicos e biodinâmicos desde sua fundação, o que se reflete tanto nos cosméticos quanto nos medicamentos produzidos.
Pontes enfatiza que os remédios da marca têm um público mais nichado, ligado à comunidade antroposófica, e que os cosméticos abriram portas para um público mais amplo, interessado em cuidados pessoais com propósito sustentável.
Ampliação da pesquisa com biodiversidade brasileira
Um dos principais desafios da Weleda no Brasil é ampliar o uso de ingredientes provenientes da rica biodiversidade nacional. Embora a maioria dos insumos ainda venha de fora, a empresa já desenvolve produtos com plantas nativas e participa de iniciativas de repartição de benefícios, em conformidade com normas do Ibama e da legislação de sociobiodiversidade.
“Se conseguirmos explorar de maneira consciente os seis biomas brasileiros, teremos um potencial extraordinário de inovação”, destacou a CEO.
Produção sustentável e relação com comunidades
A empresa mantém relações de longo prazo com agricultores parceiros e investe na formação de fornecedores que sigam práticas orgânicas e sustentáveis. Caso algum produtor enfrente perdas na colheita, uma das políticas é manter o compromisso de compensação financeira, em uma lógica de comércio justo.
Além disso, os resíduos das plantas utilizadas são reaproveitados na compostagem. Os produtos não utilizam conservantes artificiais e seguem os padrões mais rigorosos de certificação natural.
“Temos uma filosofia de respeito com o outro, com a terra, com o meio ambiente. Se eu exaurir meu fornecedor ou o solo, estarei comprometendo o futuro da própria empresa”, disse Pontes.
Embalagens e sustentabilidade como critério de lançamento
O compromisso com a sustentabilidade também está presente nas embalagens. Cerca de 80% já são recicláveis, e a empresa evita o uso de plásticos convencionais, priorizando materiais como vidro, alumínio e PET reciclado.
“Se um produto não puder ser sustentável, ele nem chega ao mercado”, resumiu a empresária.
Expectativas para a COP-30 no Brasil
Embora a empresa não vá participar diretamente da COP-30, que será realizada em Belém (PA) em 2025, Pontes acredita que a presença do evento no Brasil será um marco importante para reforçar o papel do país no combate às mudanças climáticas.
“O Brasil tem um potencial incomensurável de ser um protagonista na crise climática. Temos empresas que geram impacto positivo e sustentável — precisamos mostrar isso ao mundo”, afirmou.
A CEO acredita ainda que o evento pode acelerar a conscientização de consumidores e empresas sobre a necessidade de práticas mais responsáveis. “A nova geração vai exigir isso. As pessoas querem saber o que está por trás do produto, como ele foi feito, e esse movimento é irreversível.”
Fonte: Terra