O Pará é o maior produtor de amêndoa de cacau do Brasil, responsável por quase 145 mil toneladas, o que supera em 53% toda a produção nacional. O Estado conta com mais de 31,5 mil produtores, segundo dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa). Medicilândia, Uruará, Anapu, Brasil Novo, Placas, Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Tucumã e Pacajá são os municípios paraenses que mais produzem o fruto.
No contexto da economia mundial, o Brasil se destaca dentre os principais produtores, estando na sétima posição, com quase 270 mil toneladas em 2020, o que corresponde a 4,7% da produção global. E o Pará figura entre os maiores produtores do planeta, seguido pela Bahia.
A comercialização externa é outra dimensão da cacauicultura. De 1998 a 2022 o preço do cacau bruto paraense no comércio externo passou de US$ 1,6 por kg para US$ 3,4 por kg – um aumento de 118,4% no período.
Já o cacau em pó, com maior valor agregado, começou a ser mais comercializado pelo Pará a partir de 2018, saindo de US$ 2,2 por kg, para US$ 5,2 por kg, correspondente a quase duas vezes o preço do cacau bruto nos últimos anos.
Agricultura familiar – Esses dados mostram o resultado de investimentos do governo do Estado na cadeia produtiva do cacau. Atualmente, a Fapespa destina R$ 2.535.079,20 para dez projetos que envolvem cacau, sendo sete de pesquisa e três de apoio a Startups.
Grande parte do cacau produzido no Pará é oriundo da agricultura familiar, geralmente de sistemas agroflorestais (SAFs), os quais permitem um ecossistema diversificado e benéfico ao desenvolvimento das plantas e à qualidade do solo, garantindo maior eficiência.
O engenheiro agrônomo e florestal Deyvison Medrado, diretor Científico da Fapespa, explica que a sustentabilidade dessa cadeia produtiva é resultado de vários fatores, incluindo aumento da produtividade, com utilização de técnicas adequadas de manejo, como poda, controle de pragas e doenças, e uso eficiente de fertilizantes. Essas técnicas resultam em mais cacau produzido por hectare, aumentando a renda dos agricultores sem a necessidade de expandir a área cultivada.
Outro fator essencial é a conservação do solo e da água, uma vez que práticas como o plantio em contorno, cobertura do solo e sistemas agroflorestais ajudam a conservar esses dois recursos naturais, o que melhora a saúde do cacaueiro e protege o solo e os cursos d’água, garantindo sustentabilidade em longo prazo.
Diversificação – A sustentabilidade da cacauicultura também depende da diversificação de culturas, pois a integração do cacau com outras espécies em sistemas agroflorestais pode diversificar a renda dos agricultores, o que os ajuda a enfrentar flutuações de mercado e mudanças climáticas. A diversidade de plantas também pode melhorar o ecossistema agrícola.
Deyvison Medrado destaca ainda as certificações de mercado premium, práticas de manejo sustentável que permitem aos agricultores obter certificações, como Fair Trade ou Rainforest Alliance, que muitas vezes permitem acesso a mercados premium e preços mais competitivos para o cacau.
“Daí a importância de o Estado investir nas pesquisas, uma vez que o aprimoramento das técnicas de manejo agronômico do cacau potencializa a produtividade, a qualidade dos frutos e seus derivados, o que reflete no escalonamento das vendas”, informa o pesquisador.
Inovação tecnológica – Entre os projetos apoiados pela Fapespa está “Utilização de inteligência artificial para reconhecimento por imagem das principais doenças da cultura do cacau na região amazônica”, denominado “CIDD: Cacau Inteligente – Diagnóstico de Doenças”, cujo objetivo é prevenir possíveis pragas nas lavouras paraenses que acometem o cacau, como a vassoura-de-bruxa, a podridão parda e o mal do facão, que se destacam visualmente, permitindo que sejam detectadas com o uso de técnicas de reconhecimento de imagem (também conhecidas como técnicas de visão computacional).
“O impacto financeiro de uma praga pode ser devastador. Identificar o surgimento de pragas em estágio inicial é extremamente importante para que o produtor possa tomar precaução e evitar perdas. Poder ofertar isso para produtores, especialmente os pequenos, que não têm tanto recurso para investir em inovações tecnológicas, bem como em mão de obra especializada, vem a ser o maior resultado”, explica o coordenador do projeto, Marcus Braga, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).
O projeto coletou imagens de cacau de diferentes regiões do Pará, como Paragominas (no sudeste), Tomé-Açu (nordeste), Benevides (Região Metropolitana de Belém) e Altamira (oeste), e montou um banco de dados, que serviu de base ao treinamento para o modelo de inteligência artificial. A partir desse modelo, foi construído um aplicativo móvel (CIDD).
A pesquisa também resultou em parcerias com a República Dominicana para implantação do Projeto “Use of artificial intelligence for image recognition of the main diseases of cocoa cultivation in the Dominican Republic”, desenvolvido naquele país da América Central e financiado pelo FONDOCyT, do “Ministry of Higher Education, Science and Technology (MESCyT), que está em execução desde o início de 2024.
Prevenção – Entre os desafios futuros, o grupo de pesquisadores pretende acrescentar a tecnologia molecular (Ciências Ômicas) ao projeto, elevando o combate aos fungos para atingir um nível preventivo, e não apenas reativo. O grupo propõe a implantação de uma vigilância genômica do cacau, o que permitiria detectar de forma antecipada pragas bem mais severas, como a Monilíase.
“As pesquisas fomentadas pela Fapespa são fundamentais para o desenvolvimento de novos produtos e pela intensificação e o aprimoramento daquelas cadeias produtivas já existentes. No caso do cacau, nosso Estado já detém a maior produtividade do mundo, e certamente com essas novas tecnologias teremos a oportunidade de ampliar ainda mais essa vantagem competitiva”, enfatiza o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.