Da floresta à indústria: parcerias transformadoras na Amazônia paraense

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Ronald Sales – Belém e Abaetetuba (PA)

Na busca por novos bioingredientes, a Natura &Co aproveita o conhecimento e os costumes locais para descobrir ativos valiosos para a indústria cosmética dentro da rica biodiversidade da floresta. Por exemplo, o patauá já era utilizado por mulheres da Reserva Extrativista Chico Mendes (Acre) para cuidar dos cabelos, enquanto a andiroba é um remédio tradicional para várias enfermidades na cultura dos povos originários, e a priprioca é usada nos banhos de cheiro do Pará para revigorar as energias.

Contudo, alguns frutos, castanhas e árvores só ganharam relevância comercial após o interesse da empresa. Vanildo Quaresma, agroextrativista da cooperativa familiar Cofruta, em Abaetetuba (PA), relata que a ucuuba, uma árvore de cerca de 60 metros encontrada perto de igapós amazônicos, costumava ser cortada para fazer cabos de vassoura.

“Costumávamos vender a árvore inteira por R$ 30. Hoje, colhemos as sementes, deixamos algumas no chão como nos ensinaram, vendemos e recebemos mais do que R$ 30”, ele diz. Cada árvore em pé de ucuuba em sua propriedade de 3,5 hectares gera, anualmente, R$ 50 para Vanildo e outros produtores da cooperativa.

Vanildo Quaresma, agroextrativista da cooperativa familiar Cofruta, em Abaetetuba (PA). Foto: Mariana Almeida | Cabron Studios
Mariana Almeida | Cabron Studios
 Mariana Almeida | Cabron Studios

“E a árvore em pé gera renda por anos; uma vez cortada, acabou”, afirma o produtor, que orienta outros bioextrativistas da região. A ucuuba é produtiva em 11 de seus 23 anos de vida, e a manteiga extraída do fruto possui propriedades emolientes.

Apoio Financeiro

Até 2016, as comunidades recebiam diretamente recursos por seu conhecimento. Entretanto, com a Lei nº 13.123, que trata do acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional, as empresas passaram a contribuir com o Fundo Nacional para a Repartição de Benefícios (FNRB), gerido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Desde sua criação em 2016 até o final de agosto de 2023, o FNRB arrecadou R$ 6,2 milhões, que, corrigidos pela taxa Selic, totalizam hoje R$ 7,2 milhões, de acordo com o BNDES. Contudo, até o momento, não houve distribuição para comunidades tradicionais e povos originários.

Segundo o BNDES, a previsão é iniciar as liberações neste ano, após reunião do Comitê Gestor do FNRB, responsável por selecionar os projetos a serem beneficiados. O comitê é composto por representantes de diversos ministérios, povos indígenas, comunidades tradicionais e sociedade civil.

A lógica econômica predominante em relação à maior floresta tropical do mundo ainda a encara como uma fonte inesgotável de recursos e insumos para o desenvolvimento nacional. No entanto, o enriquecimento de poucas cadeias de commodities e grandes empresas ocorre à custa de pobreza, violência e degradação ambiental.

O potencial de um novo modelo para mudar esse cenário é imenso, mas os números ainda são modestos. Um estudo do projeto Amazônia 2030 revela que, dos 955 produtos exportados por empresas localizadas no bioma entre 2017 e 2019, apenas 64 (6,7%) são “compatíveis com a floresta” (como castanhas, peixes, óleos, cacau), representando apenas 0,17% do mercado global desses produtos, avaliado em US$ 176,6 bilhões por ano.

Apesar disso, os empreendedores da floresta não desistem e continuam a fazer a Amazônia vibrar com sua diversidade de oportunidades, apostando em uma floresta viva para gerar e distribuir riquezas.

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