Atualmente, o Brasil vive um momento crítico de vulnerabilidade climática, com inundações cada vez mais frequentes e devastadoras, que transformam a paisagem urbana e expõe fragilidades estruturais profundas. Sobretudo, o recente desastre no Rio Grande do Sul, que, em maio de 2024 submergiu Porto Alegre e afetou mais de 90% dos municípios gaúchos, é o exemplo mais dramático de uma tendência que preocupa especialistas.
Um cenário de destruição em números
Os dados são alarmantes, pois entre abril e maio de 2024, as chuvas intensas provocaram 172 mortes, deslocaram aproximadamente 600 mil pessoas, causando prejuízos econômicos estimados em R$ 4,6 bilhões. Bem como o Rio Guaíba, ao atingir 5,35 metros e transbordar, tornou-se símbolo de uma nova realidade climática que exige atenção imediata.
Mudanças Climáticas e Urbanização: um coquetel perigoso
Nesse sentido, especialistas, como o climatologista José Marengo, alertam que o aquecimento global intensifica o ciclo hidrológico por alterarem padrões atmosféricos, além de contribuir para eventos extremos. Ou seja, fatores locais como desmatamento, impermeabilização do solo e urbanização desordenada amplificam os riscos.
Vale lembrar que cada região brasileira tem sua própria história de tragédia climática:
- São Sebastião (2023): 682 mm de chuva em menos de 24 horas;
- Petrópolis (2022): 233 mortes por deslizamentos;
- Sul da Bahia (2021-2022): Prejuízos de R$ 15,4 bilhões.
Ao passo que a degradação ambiental urbana vai além da simples perda de vegetação. Os modelos de desenvolvimento que privilegiam o concreto e a expansão imobiliária sem planejamento têm consequências dramáticas para o equilíbrio ecológico das cidades. Quando os espaços naturais são suprimidos, eliminam-se também os mecanismos naturais de contenção e absorção de águas pluviais.
Essa substituição de áreas verdes por superfícies impermeáveis não apenas aumenta o risco de inundações, mas também compromete a qualidade de vida urbana por reduzir a capacidade de regulação térmica, diminuição da biodiversidade e eliminação de corredores ecológicos essenciais para a sustentabilidade ambiental.
Soluções urgentes para um futuro resiliente
A transformação dessa realidade demanda uma mudança radical na concepção de planejamento urbano, pois não basta apenas implementar soluções técnicas pontuais. É necessário desenvolver uma abordagem multidisciplinar que reconheça a cidade como um ecossistema complexo e interdependente.
Isso significa incorporar princípios de resiliência climática desde a fase de concepção dos projetos urbanos, envolvendo arquitetos, engenheiros, gestores públicos e comunidades locais em um diálogo permanente sobre adaptação e preservação. A educação ambiental e a conscientização sobre os impactos das escolhas de ocupação territorial surgem como ferramentas fundamentais para construir cidades mais resilientes e preparadas para os desafios das mudanças climáticas.
As Soluções Baseadas na Natureza (SbN) emergem como alternativa promissora, integrando água ao território por meio de:
- Jardins de chuva;
- Bacias de infiltração;
- Telhados verdes;
- Parques lineares;
- Restauração de matas ciliares.
É fundamental desenvolver também um pacto urbano e ambiental que articule políticas de uso do solo, conservação ambiental, infraestrutura habitacional adaptativa e justiça territorial.
Tecnologia como Aliada
Sistemas de monitoramento e alerta já demonstram potencial para salvar vidas. Sensores, aplicativos e sistemas em tempo real podem ser fundamentais na prevenção de tragédias. Afinal, a próxima inundação não é uma possibilidade, mas uma certeza, ou seja, a diferença entre destruição e resiliência dependerá das escolhas e ações implementadas nos próximos anos.
Com informações do portal O Eco.