Cumaru: a nova economia da biodiversidade dos Zo’é, no Pará

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Iepé – Em novembro os Zo’é realizaram a primeira venda de cumaru da sua história: 188 quilos e meio da semente seca do cumaru embarcaram da Terra Indígena Zo’é em direção a Santarém. Chegando na cidade paraense, a carga foi entregue à Coopaflora, que pagou cerca de R$15 mil à Tekohara, organização representativa do povo Zo’é. O valor obtido com a venda da carga será revertido na compra de insumos básicos que serão distribuídos igualmente entre as famílias Zo’é.

Os Zo’é vivem no norte do Pará, entre os Rios Erepecuru e Cuminapanema. Atualmente são cerca de 330 pessoas, organizadas em 19 grupos. Eles são considerados um povo indígena de “recente contato” pelo Estado brasileiro. E fundaram sua associação há dois anos, através da qual vendem seu artesanato. Agora os Zo’é estão muito animados com esta primeira experiência com o cumaru, que veio para fortalecer sua capacidade de produção e gestão de economias da sociobiodiversidade, alcançando mais autonomia na aquisição de itens de primeira necessidade que utilizam em seu dia a dia.

Sementes de cumaru nas mãos de Tebo Zo’é (Foto: Kamikia Kisedje/ Nia Tero)

“Os Zo’é são muito comprometidos quando se propõem a fazer algo novo juntos. Eles conhecem muito bem a sua terra e logo identificaram os locais com fartura de cumaru. Os meses finais do ano sempre foram marcados por uma grande mobilidade territorial, articulada com a vigilância. Agora, a coleta de cumaru faz parte desse roteiro”, diz Hugo Prudente, do Iepé,  assessor do Programa Zo’é responsável pelo acompanhamento das atividades envolvendo o cumaru.

Cumaru: a baunilha da Amazônia

Apelidado de “baunilha brasileira”, o cumaru é a semente do cumaruzeiro, planta nativa da Amazônia que pode chegar a até 30 metros de altura na fase adulta. Cada fruto possui uma semente – para extraí-la é preciso que a casca lenhosa do fruto seja rompida. O cumaru é muito utilizado para culinária, além de perfumes e sabonetes.

Treinamento para o trabalho com o cumaru

Como parte do lançamento dessa nova economia da sociobiodiversidade dentro da Terra Indígena Zo’é, em setembro os indígenas haviam participado de um treinamento voltado às boas práticas sustentáveis da cadeia do cumaru. Realizado pelo Instituto Iepé, em parceria com Coopaflora e FPE-CPM/Funai (Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema), a atividade formativa contou com o envolvimento ativo da Tekohara Organização Zo’é. Criada em 2022, a Tekohara é uma associação fundada e gerida pelos próprios zo’é.

Parceira tanto do treinamento como da comercialização das sementes, a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora) tem como objetivo fortalecer o extrativismo sustentável na região.

Sementes de cumaru durante o processo de secagem (Foto: Kamikia Kisedje/Nia Tero)

A formação aconteceu durante sete dias e envolveu diferentes aspectos das boas práticas na coleta de sementes de cumaru: reconhecimento das árvores, quebra adequada dos frutos, construção e uso do secador,  pesagem das sementes, registro e rastreabilidade, além do armazenamento adequado das sementes.

Toda a produção de cumaru será creditada por família, nos moldes já acordados com os Zo’é na experiência bem sucedida do FAZ, o Fundo de Artesanato Zo’é. O registro dos valores foi feito pela diretoria da Tekohara com o apoio do Programa Zo’é do Instituto Iepé e da Frente de Proteção Cuminapanema, responsável pela gestão da conta bancária da organização.

Das 31 famílias extensas em que se dividem os Zo’é, apenas sete não se envolveram no processo de coleta, mas já afirmaram que pretendem participar da próxima leva.  A Coopaflora já sinalizou interesse em adquirir um novo volume em janeiro de 2025 e os Zo’é se encontram mobilizados para isso.

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