Economia agrosolidária na Amazônia: a união entre lucro e desenvolvimento sustentável

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Você já ouviu falar em economia agrosolidária? Ao se discutir futuro, sustentabilidade e Amazônia, esta é uma lógica fundamental.
Antes de chegar até ela, no entanto, lembremos que na cadeia capitalista, uma empresa visa o lucro e, para isto, é essencial que haja a posse dos meios de produção, bem como uma equipe de funcionários que transformem aqueles meios em produtos e/ ou serviços que serão consumidos em larga escala. Assim, eles serão pagos pelas ações e os donos receberão o lucro advindo da equação entre investimento e arrecadação.
Bom, esta é cadeia capitalista (muito) mais simples de se entender/ perceber e, por isso, é difícil crer que não haja exploração (do tempo, ao menos) de pessoas e da matéria-prima, afinal, em um negócio escalável, crescer é fundamental. No entanto, uma empresa vem mostrando que é possível construir e aplicar um modelo de negócios que prevê a sustentabilidade e melhor aproveitamento dos recursos naturais: a Natura &Co.

Ricardo Calderón (ao centro) foi um dos convidados do “Visão 2030”, que foi realizado na Casa Natura Musical na terça, 5 de setembro, Dia da Amazônia. Foto: Marcos Sugüio.

Foi a empresa que promoveu e realizou o evento “Visão 2030”, em 5 de setembro, Dia da Amazônia, reunindo ativistas, jornalistas e influenciadores de diversas áreas em São Paulo.
Lá pude conversar com o engenheiro de alimentos Ricardo Calderón. Colombiano, ele é o grande nome da Agrosolidária Florencia e diretor executivo da SOMOS ÜTAÍ, localizada em Caquetá, estado ao sul do país, que integra a chamada Pan Amazônia. Dito isto, é justamente aqui que chegamos ao que é economia agrosolidária e sua importância nos debates contemporâneos ao se falar de Amazônia, produção e ambiente.

AGROSOLIDÁRIO: AINDA NÃO É POP, MAS É FUNDAMENTAL
À medida que as preocupações com a sustentabilidade e a justiça social se tornam cada vez mais presentes, a economia solidária passou a ser fortalecida, afinal oferece uma maneira viável de reconciliar os interesses econômicos com o bem-estar das pessoas e do planeta. Isto mesmo.
A economia agrosolidária não busca somente o sucesso financeiro (isto é, o lucro), mas também valoriza a cooperação entre diversos atores sociais, a sustentabilidade e a produção econômica. Através deste modelo, não há apenas a exploração dos recursos, mas a realização de parcerias com comunidades mais interioranas e/ ou rurais, colaborando para transformar a agricultura e impulsionando comunidades em busca de um futuro mais inclusivo e responsável.


Conceito complexo? De cara, talvez sim. Mas vamos simplificar: a economia agrosolidária é uma abordagem econômica baseada na colaboração e no compartilhamento de recursos entre agricultores, produtores, consumidores e comunidades. Em vez de se concentrar apenas no lucro individual, essa filosofia promove a igualdade, a solidariedade e a sustentabilidade em todas as etapas da produção agrícola e do processo de distribuição. Esta lógica é cada vez mais importante na Amazônia.
Para Ricardo Calderón, pensar a região amazônica como um território interligado não apenas ao Brasil, mas entre seus Estados e mesmo outros países, é crucial, afinal “é muito importante poder vivê-la (Amazônia), poder senti-la, ver sua realidade, ter a oportunidade de nos comunicarmos com suas comunidades, de poder se comunicar e estabelecer relações com as pessoas, de poder conhecer sua realidade, de viver e ver como transitam, como vivem, como se relacionam com seu território e quando fazemos isso potencializamos muito mais nossa vocação de defender a Amazônia”, destaca.

Mapa da Pan Amazônia, que reúne Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia Venezuela, Guiana Inglesa, Suriname e Guiana Francesa. Crédito: MapBiomas Amazónia.

No entanto, não basta discutir de modo distante ou idealizado a Amazônia, como por vezes ocorre em grupos de pessoas que nunca vieram até a região e possuem apenas uma imagem mítica, midiática ou mesmo turística da mesma. Para Calderón, é fundamental que se conheça de fato a Amazônia, a ponto dele fazer até mesmo “um convite muito especial para que as pessoas possam ter a oportunidade de conhecer a Amazônia e toda sua Pan Amazônia: Brasil, Peru, Equador, Venezuela, Suriname, Guianas, Colômbia”, explica o engenheiro.

COOPERAÇÃO: A FORÇA DO AGROSOLIDÁRIO
Como você já deve ter notado, caro leitor e cara leitora, a economia agrosolidária possui foco na sustentabilidade. Agricultores adotam práticas agrícolas que reduzem o impacto ambiental, como o uso de pesticidas orgânicos, agricultura de conservação e energia renovável. Essas abordagens não apenas protegem o meio ambiente, mas também garantem a saúde a longo prazo do solo e a qualidade dos produtos. Neste contexto, ganham destaque as cooperativas.
Um dos pilares da economia agrosolidária são as cooperativas agrícolas. Essas organizações permitem que os agricultores combinem seus recursos, compartilhem conhecimento e negociem melhores preços para seus produtos. Além disso, as cooperativas muitas vezes adotam práticas agrícolas sustentáveis, promovendo o uso responsável dos recursos naturais.

E disso Ricardo Calderón entende bem, inclusive por sua experiência aqui Pará. O colombiano, que percorre a América Latina, conhece Belém e Abaetetuba, cidades que conheceu através “de um intercâmbio de experiências proporcionado pela Natura. Lá podemos experienciar como ela possui um sentido e um propósito de vida que se reflete com as comunidades. Para elas (as comunidades), trabalhar com a Natura é um motivo de satisfação, de orgulho e o compromisso com a vida também”.
Essa abordagem não apenas beneficia os agricultores e consumidores, mas também contribui para a mitigação das mudanças climáticas, a conservação da biodiversidade e a segurança alimentar. E tudo isso sem deixar de gerar lucro às empresas, como a Natura.
Assim, a economia agrosolidária gera empregos, incentiva a autonomia e promove o crescimento econômico sustentável. Além disso, ao valorizar a produção local, ela reduz a dependência de alimentos importados e fortalece a resiliência das comunidades a crises globais.

FUTURO E SONHO
Demanda urgente e universal, a economia agrosolidária está ganhando força em todo o mundo. Em regiões de países desenvolvidos e em desenvolvimento, as comunidades estão se unindo para criar sistemas alimentares mais equitativos e sustentáveis.

À medida que agricultores, consumidores e comunidades continuam a abraçar a economia agrosolidária, é possível crer em uma agricultura mais sustentável, uma distribuição mais justa de recursos e uma sociedade mais equitativa emergindo das raízes dessa revolução econômica e ambiental. Sonho utópico? Talvez não. Futuro (in)alcançável? O tempo dirá.
Entre sonho e futuro, algumas metas de Ricardo Calderón podem e devem ser compartilhadas para que possamos almejar uma realidade sustentável, mais justa e equilibrada e que, mesmo assim, ainda ajude a fazer girar a cadeia capitalista (lembra do início do texto? Pois é…): “sou de um planeta em que a Amazônia é o centro e sonho que possamos seguir potencializando de todas estas questões e pesquisas que estamos fazendo hoje, em 2023. Sonho também com uma juventude empoderada que lidere processos comunitários em seu próprio território. Sonho também com mais cooperativas, mais associações no campo, como as parceiras da Natura, porque isto é um indicador de conservação, restauração e reabilitação da Amazônia”, finaliza.

Enderson Oliveira é jornalista, coordenador de conteúdo no DOL e doutor em Antropologia.

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